
Foi proposto à nossa Diocese um plano pastoral trienal dedicado à iniciação ou reiniciação cristã. No corrente ano (2019-20), o acento é posto no Batismo e na relação filial que este sacramento instaura com Deus Pai; no 2º ano (2020-21) o foco incidirá sobre a Eucaristia; o 3º ano (2021-22) será dedicado à Confirmação.
Por Secretariado Diocesano da Liturgia
Já aqui manifestamos estranheza pela subversão da ordem – não casual nem puramente comutativa – dos sacramentos da Iniciação cristã que culmina na Eucaristia e não na Confirmação. Na última reunião do Conselho Presbiteral da nossa Igreja Portucalense foi explicada a razão desta inversão: «tem a ver com o facto de a celebração do Crisma estar muito ligada à idade juvenil e 2022 ser precisamente o ano da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa». É caso para dizer, com palavras do Salmista: «abismo atrai abismo»! Como se a ligação artificialmente criada entre confirmação e idade juvenil, a partir de uma conceção protestante que ignora a sacramentalidade do 2º Sacramento, não fosse precisamente um grande problema! Como se essa ligação instrumental não fosse um curto-circuito que corre o risco de eletrocutar tanto a pastoral juvenil como a pastoral da iniciação cristã! E como se o grande objetivo que nos deveremos propor das JMJ não seja antes o de elevar os jovens a uma prática eucarística consistente e feliz que os leve a renovar a Igreja e o mundo a partir da aliança que os une a Cristo e que constantemente se celebra na Eucaristia!
Que fique claro: podemos dedicar o ano que quisermos ao sacramento que quisermos. Pelo meio, entre Batismo e Confirmação, até podemos dedicar um ano às Exéquias que nem sacramento são, mas são muito importantes na ação pastoral… Mas, então, não nos falem em «Iniciação cristã»…
O/a Crisma – prefiro esta designação porque é mais «portuguesa» – tem contribuído para muitos peditórios. Foi «sacramento da Ação Católica», «da puberdade», «da adolescência», do «cristão adulto» (confundindo o plano teológico com o psicológico), «da juventude»… Quando lhe daremos a esmola de o deixar ser o que ele é? Psicologia, pedagogia, sociologia e catequética servem-se dele para fazer valer as suas próprias opções, nem sempre coincidentes e, sobretudo, regularmente flutuantes. Quando chegará a hora de se fazer a sua pastoral a partir do que ele é em si mesmo, no organismo sacramental da Santa Mãe Igreja, tal como nos é oferecido nas palavras e nos ritos da Liturgia?
Uma teologia litúrgica e eclesial da Confirmação há de ser elaborada a partir de fonte limpa: a Bíblia, a eucologia, a sintaxe ritual, o Magistério. E estas fontes hão de ser inseridas num quadro genético e comparativo que permita dar o justo relevo às diversas perspetivas, temáticas e opções presentes nos ritos e nos textos.
Destas fontes emerge uma teologia da Confirmação vivida como celebração do mistério Pascal desde a perspetiva da sua consumação com o Dom pentecostal do Espírito Santo. Mais do que o termo de chegada de um processo de maturação desencadeado com o Batismo, a Confirmação cria uma nova situação e uma nova relação com Cristo e a Igreja. Com efeito, enquanto que a ação do Espírito no Batismo configurara o homem a Cristo enquanto «Filho de Deus» e o torna «membro» da Igreja, na Confirmação o «Espírito Santo, o Dom de Deus», configura o neófito a Cristo enquanto «Messias» e faz dele «membro ativo» da Igreja». E esse carácter ativo começa logo a exercitar-se com a participação plena na Eucaristia, ponto de chegada da génese do Corpo de Cristo sacramental e eclesial, cume e fonte permanente da vida deste «Corpo» em exercício permanente e num dinamismo auxológico que tende para a consumação escatológica em que se alcançará a estatura perfeita de Cristo na sua plenitude.
Resulta daqui a recíproca referência e a não arbitrária ordenação dos sacramentos da Iniciação cristã: por um lado a confirmação leva à «perfeição» a vida nova gerada – já pela virtude do Espírito – no Batismo; por outro é ela que torna o batizado idóneo para participar plenamente na Eucaristia.
Esta teologia, reconhecemo-lo, não será a mais «funcional» para a atual prática pastoral da Confirmação. Mas será «teologia da confirmação» o «discurso funcional» de uma prática?