América Latina de novo em foco

Houve tempos em que a América Latina constituía um tema importante e recorrente no espaço que os Meios de Comunicação reservavam para à vida política internacional. Isso aconteceu sobretudo quando a União Soviética e os Estados Unidos da América disputavam a hegemonia mundial, a nível político e militar. A América Latina era um dos campos privilegiados de uma relação tensa que passou à História com o nome de Guerra Fria.

Por António José da Silva

Actualmente, essa relação mudou significativamente, podendo dizer-se que os Estados Unidos e a agora chamada Federação Russa já não são propriamente inimigos declarados. Hoje, são “apenas” adversários, embora o seu relacionamento seja marcado pela desconfiança mútua e pelas sequelas do tempo em que se defrontavam perigosamente em várias regiões do mundo. Para além de Cuba e da Venezuela, que ocupam, permanentemente, um lugar cimeiro no noticiário internacional, outros países da América Latina têm merecido com alguma frequência a atenção dos Media: falamos de alguns dos estados da América Central, como por exemplo a Guatemala e a Nicarágua. No entanto, e tendo em conta as notícias das últimas semanas, justifica-se referenciar mais três: a Bolívia, a Argentina e o Chile.

No caso da Bolívia, e como acontece frequentemente em países onde se confrontam em eleições partidos ou movimentos claramente divididos por ideologias opostas, os problemas tiveram origem numa demorada e polémica contagem de votos que acabaria por dar a vitória ao actual presidente Evo Morales, o primeiro indígena a chegar à presidência do país. Ora acontece que o seu principal apoiante na América Latina é precisamente o venezuelano Nicolas Maduro e isso é, só por si, suficiente para justificar as muitas acusações de fraude eleitoral invocadas que os seus opositores lhe fazem, até porque a contagem dos votos conheceu episódios que, pelo menos aparentemente, podem justificar essas acusações. Uma coisa parece certa: nos próximos tempos, a Bolívia não irá gozar de paz social.

O caso da Argentina é bem diferente. Também ali se realizaram eleições e não houve notícias de incidentes nem se fizeram ouvir acusações de fraude. O triunfo do candidato peronista foi um exemplo de verdadeiro espírito democrático, é certo. Só que os dramáticos problemas financeiros, económicos e sociais que o país enfrenta não serão resolvidos só pelo regresso do peronismo ao poder.

Do Chile recebemos imagens de manifestações que foram reprimidas com uma força que terá ultrapassado os limites do razoável. O governo respondeu à agitação com uma estratégia de recuos e cedências que, para já, evitaram o pior. Mesmo assim, não falta quem tema pelo futuro próximo da América Latina. Justificadamente.