A Iniciação cristã das crianças em idade de catequese

O facto de atualmente se multiplicarem os casos de batizados que adiam (ou desleixam) o batismo dos seus filhos até à idade escolar deve ser objeto de reflexão e discernimento pastoral. Quais as causas deste fenómeno? Falta de fé ou descuido dos pais? Conceções erradas acer­ca da liberdade humana e do respeito que esta merece? «Efeitos secundários» de roturas matrimoniais e de situa­ções familiares irregulares? Índice da regressão do cristianismo e do avanço da descrença ou indi­ferença? Inércia dos pastores que não reagem como deveriam quando pais cristãos e praticantes adiam sem motivo aparente uma celebração que se deve realizar «quanto antes»? O fenómeno é complexo e as situações são diversas. Urge, de facto, uma «nova evangelização».

Por Secretariado Diocesano da Liturgia

Seja qual for o resultado desse discernimento, o facto é que a realidade se nos impõe e não podemos «fazer de conta» que está tudo na mesma, como nos tempos da «cristandade». Só ignorando os «sinais dos tempos» e atraiçoando a realidade se poderão tratar estas situações cada vez mais frequentes como «anomalia» que importa «normalizar» passando uma esponja que, meio às escondidas, «apague» e regularize a suposta «irregularidade». Não: estas crianças não podem ser tratadas como párvulos – termo bem português – e infantes a quem a Igreja acolhe e batiza na sua fé, professada por pais e padrinhos, na presunção de que mais tarde terão a oportunidade de assumir pessoalmente o dom da fé, nelas infundido pelo Batismo. A situação já não é essa porque aos 7, 8 e mais anos as crianças já são capazes de participar de forma consciente na celebração e de responder por si às perguntas que o ritual prevê. Desde que possuem o uso da razão e adquiriram um certo grau de responsabilidade e consciência moral, elas não podem ser batizadas fora de um programa global de iniciação cristã que inclua um catecumenado adaptado à sua condição. Para este catecumenado adaptado, o cap. V do Ritual da Iniciação cristã de adultos fornece válidas indicações.

– As crianças não batizadas devem fazer a sua caminhada catecumenal não num grupo à parte mas inseridas nos grupos de catequese com os companheiros da mesma idade já batizados (ICA 308). Quer dizer que, no essencial, «a sua iniciação faz-se progressivamente, tendo por base este mesmo grupo catequético» (Ibid.) e, portanto, recebendo a mesma catequese que é ministrada em ordem à receção dos sacramentos da Confirmação e da Eucaristia (Ibid.). Reunir-se-ão, contudo, nas celebrações previstas no ICA, que devem ser comuns (ICA 309).

– Para além da companhia dos coetâneos já batizados, o ICA recomenda, na medida do possível, o acompanhamento, apoio e exemplo dos pais. Estes, no mínimo, terão de permitir o acesso dos filhos à Iniciação cristã. Mas é de desejar que a intensificação dos seus contactos com os catequistas e o sacerdote os comprometa no itinerário catecumenal dos filhos (ICA 308).

– As crianças catecúmenas devem receber os sacramentos da Iniciação cristã na mesma altura em que os companheiros da mesma idade, já batizados, são admitidos à Eucaristia (ICA 310. «Na mesma altura» não quer dizer «na mesma celebração». Em cada paróquia terá de se fazer um discernimento, tendo em conta o número das crianças catecúmenas e os outros condicionamentos da vida pastoral. Como regra, e porque as celebrações supõem um ritmo e requerem um tempo relativamente prolongado (tenha-se em conta a dificuldade em suscitar e sustentar a atenção e participação das crianças por muito tempo) sugerimos que se façam celebrações distintas, embora temporalmente próximas. Assim poderá dar-se o destaque devido tanto à primeira Comunhão como à celebração dos sacramentos da Iniciação cristã. Estes, segundo a indicação do Ritual e a tradição da Igreja deveriam estar associados à celebração das festas pascais (ICA 310), se possível na Vigília pascal. A primeira Comunhão, com o envolvimento de todo o grupo de coetâneos, celebrar-se-ia nas semanas seguintes. Uma calendarização deste tipo permitirá aos «neófitos» acertarem o passo com os companheiros no que se refere à primeira confissão sacramento. Como é óbvio, esta não pode preceder a receção dos sacramentos da Iniciação cristã.