Mensagem (51): O resgate da memória

Encerramos o Ano Missionário Extraordinário. Pensamos muito na «missão». E nos missionários? Eles encarnam a história tensa entre libertação, salvação e inculturação.

Sim, todos juntaram ao seu curriculum uma notável obra de libertação: seja das superstições que escravizam, seja das condições sociais e económicas degradantes. Todos fizeram do anúncio da salvação integral a única razão de trocarem a sua zona de conforto pelo desconhecido e tenebroso. Todos se inseriram na cultura que adotaram como sua para, a partir dela, exprimirem os grandes conteúdos do Evangelho.

Isto faz dos missionários os maiores fomentadores da verdadeira cultura da globalização e expressões sublimes do génio humano: fundaram cidades e imprimiram gramáticas e dicionários; abriram rotas de ligação e desenharam mapas; ensinaram matemática e intercambiaram plantas e animais; humanizaram o coração de régulos e imperadores e edificaram dispensários e hospitais, escolas e universidades. Mas, fundamentalmente, construíram: construíram o homem novo, a exemplo de Jesus Cristo, na verdade e na liberdade, na justiça e na fraternidade.

É preciso resgatar do esquecimento todas estas dimensões, trazer a lume todas estas realizações, dar voz a quantos, por estas razões, sofreram a solidão, a doença, o martírio e a própria morte. É preciso vê-los como profetas corajosos que se encontram no sentido da história: são artífices de um mundo unido, qual aldeia comum, e não de um pequeno círculo fraturado e tribalizado, como nos princípios da história. Um mundo familiar ou de irmãos, sob a paternidade divina.

Com o seu exemplo, a Igreja que está em Portugal reforce o anúncio de esperança e dê-se conta de que quanto mais se dedicar ao exterior, tanto mais viva e dinâmica será no seu interior. E a sociedade civil que tenha a coragem de resgatar a sua amnésia e de reconhecer o trabalho civilizacional de quem tanto tem servido a humanidade. E faça justiça criando uma verdadeira lei que valorize o voluntariado, para que as centenas de leigos e religiosos que todos os anos partem para a missão não sejam prejudicados nos seus direitos sociais.

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