Centenário de Sophia lembrado por Universidades

Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu em 6 de novembro de 1919, na cidade do Porto, ali mesmo ao Campo Alegre. Percorreu depois os caminhos da vida e fixou-se em Lisboa, na Travessa das Mónicas, à Graça, onde faleceu em 2 de junho de 2004. No 10.º aniversário da sua morte os seus restos mortais foram traslados para o Panteão Nacional em 2 de julho de 2014.

Por M. Correia Fernandes

Ao cumprir-se o centenário do seu nascimento, a Cátedra Poesia e Transcendência | Sophia de Mello Breyner (com sede na Universidade Católica, Porto), em parceria com a Faculdade de Teologia da mesma instituição e o Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, promove em 8 e 9 de novembro, nas instalações da Foz da Universidade, o Congresso Internacional designado “Teotopias” (à letra “lugares de Deus”), tendo como tema “Hermenêuticas do religioso no espaço literário, com especial incidência na sua dimensão poética”.

A inspiração nasce de um verso de Sophia que olha o espaço grego “Trazida ao espanto da luz”, procurando desvendar o silêncio e a estranheza, o mistério e a descoberta em múltiplas escritas em que se reflete a dimensão teológica e a visão do mundo.

Entre os temas programados referimos “La elocuencia del mistério”, “O sagrado e o mistério como categorias de análise do religioso na literatura. Os casos de Dalila Pereira da Costa e de Mário Cláudio”, “Redenção e deformidade. A poética do estranhamento como discurso teológico da modernidade” e “Literatura y hospitalidad. El giro estético-dramático de la teologia”.

Outros temas: Linguagem poética e linguagem teológica: continuidades e descontinuidades; linguagem poética e linguagem mística: inter[con]textualidades; linguagem poética e sagrado: aproximações estético-fenomenológicas; “Razón teológica del arte literario”, “A salvação que habita a palavra. Um diálogo entre teólogos e poetas”, “A dimensão metafísica do banal profano. Graham Greene entre a literatura, o cinema e o ensaio”.

O programa prevê ainda reflexões como “’De mãos vazias perante a morte’. Sobre o vazio de Deus em Vergílio Ferreira”, “’As coisas em que penso não existirão muitas vezes’. A associação metonímica como princípio de continuidade em ‘Toda a Terra’, de Ruy Belo”, “’De poderes abrir a vida’. Sobre a casa na poesia de Daniel Faria e de Luiza Neto Jorge”, “’Silêncio de luz’. Mística musical em Jorge de Sena”, “‘Monoteísmo da razão e do coração, politeísmo da imaginação e da arte’. A mitologia nova em Fernando Pessoa e Sophia de Mello Breyner” e “Frei Agostinho da Cruz: um poeta para o nosso tempo”.

Abordam-se também problemas como “‘E se Deus nos falta?’ Inquietações espirituais e formas de relação com Deus na literatura portuguesa contemporânea”, “O espanto da luz e a inocência da carne. A poesia de Sophia de Mello Breyner e de Adélia Prado”, “O transcendente, o sagrado e o cristão na obra de Sophia de Mello Breyner”, “‘No tempo dividido’. Mistagogia da temporalidade na poesia de Sophia”. Será apresentada uma medalha comemorativa do centenário do nascimento de Sophia “Trazida ao espanto da luz”, de Avelino Leite.

O congresso culmina com um recital de poesia e com a sessão de encerramento, em que fará intervenção a reitora da Universidade Católica, Isabel Capeloa Gil. (C. F.)

 

Universidades de Portugal, Espanha e Brasil homenageiam Sophia

Também por ocasião do centenário do seu nascimento, homenageando a universalidade da obra de Sophia de Mello Breyner Andresen, decorrerá em torno das datas do centenário do seu nascimento, durante o mês de novembro de 2019, em Portugal e em Espanha, um colóquio internacional, sendo uma organização conjunta do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto, em parceria com o Centro de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Faculdade de Filosofia da Universidade de Santiago de Compostela, Cátedra Poesia e Transcendência/ Sophia de Mello Breyner, da Universidade Católica (C. R. Porto) e Cátedra Fidelino de Figueiredo da Universidade Estadual da Bahia, no Brasil.

O Colóquio Internacional é designado “Sophia e O Nome das Coisas: Pensamento e obra em Sophia de Mello Breyner”, e tem lugar nas seguintes datas: em 5 de novembro, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; nos dias 6 e 7 de novembro, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto; no dia 13 de novembro, na Facultad de Filosofía da Universidad de Santiago de Compostela.

O sentido desta iniciativa pretende salientar, em relação a Sophia, não apenas a sua dimensão poética, mas também a sua dimensão de pensamento, em torno de temas como a sua poesia e a filosofia contemporânea, a filosofia pré-socrática, as suas  traduções e a poesia por ela assinada, a literatura para a infância, a poesia e Filosofia da Linguagem, Estética,  Retórica e Filosofia Política.

São pois duas dimensões do humano que estas duas iniciativas empreendem envolvidas pela dinâmica da poesia de Sophia: a dimensão teológica e a dimensão do pensamento. Tudo isto tem um sentido: que poesia, filosofia, pensamento, transcendência, todo o universo humano perpassam na criação poética de Sophia. Que continue a ser inspiradora.

P.S. – Depois de elaborado este escrito, verificamos que na noite de 18 de outubro também a poesia de Sophia foi presença na homenagem a D. António Ferreira Gomes, que se admiravam mutuamente, para quem ele escreve um prefácio para os “Contos Exemplares” e para quem ela escreveu o conhecido poema que termina:

Fortaleza era o homem – o Bispo –
Alto e direito firme como torre
Ao fundo da grande sala clara: fortaleza
De sabedoria e sapiência
De compaixão e justiça
De inteligência a tudo atenta
E na face austera por vezes ao de leve o sorriso
Inconsútil da antiga infância.

Sobre o texto deste poema escreveu Fernando C. Lapa uma composição para coro e orquestra, apresentada em primeira audição e com a presença do autor, na sessão de homenagem a D. António pelo Coro da Sé do Porto, com a orquestra “sine nomine”, e com o barítono Rui Silva, sob a direção de Tiago Ferreira.