
A divulgação do nome dos vencedores dos vários Prémios Nobel de cada ano constitui sempre motivo de interesse mediático e, em certos casos, de alguma polémica.
Por António José da Silva
Essa polémica acontece particularmente com as escolhas feitas na áreas da Literatura e da Paz, e este ano não fugiu de todo à regra. Logo que foi conhecido o nome de vencedor do Prémio Nobel da Literatura, multiplicaram-se as críticas O autor premiado está a ser acusado de promover, nas suas obras figuras ligadas â política sérvia na guerra dos Balcãs, nomeadamente Slobodan Milosevic.
Uma polémica semelhante mão aconteceu, relativamente à atribuição do Prémio Nobel da Paz, embora houvesse outras personalidades ou instituições a merecer, em igual ou até em maior grau, essa honra. Passada a surpresa do anúncio, pode dizer-se que o nome do vencedor, Abiy Hamed acabou por se tornar consensual, acreditando-se mesmo que ele virá a ocupar um lugar de relevo entre as figuras políticas mais importantes do continente africano, e não só. Repetindo o primeiro comentário do próprio Abyi Hamed ao seu triunfo, esta escolha foi um Prémio para a África, um Prémio que servirá para dignificar todo o povo deste continente que tão castigado tem sido ao longo dos anos pela Natureza e pelos erros e pecados dos próprios homens.
O primeiro motivo para a atribuição do Prémio a Abyi Hamed foi a sua capacidade de entender a urgência de um acordo de Paz com a Eritreia e a coragem de agir em conformidade. Foi a partir desta consciência que o mais jovem presidente africano orientou toda a sua actividade governativa e conquistou a admiração do seu povo e a credibilidade dos responsáveis do país vizinho, a Eritreia. Coincidindo com esta pacificação externa, Abyi Hamed, conseguiu também instaurar um clima de pacificação interna, nomeadamente com a aproximação das maiores das duas maiores etnias do território, hoje muito mais orgulhosas de pertencer a um país cujo grau de desenvolvimento e estabilidade política justifica a pertença ao grupo dos chamados estados emergentes.
Durante muitos anos, Etiópia foi o retrato de todo um continente, marcado sucessivamente pelas tragédias da natureza, pela fome, pela violência, e ainda por uma guerra que durou vinte anos e fez milhares de mortos: a guerra com a Eritreia. Só por ter conseguido terminar com este conflito, Abyi Hamed mereceria o Prémio Nobel da Paz, mas não apenas por isso. É que ele está a concretizar na Etiópia aquele já famoso princípio defendido por Paulo VI: o de que o Desenvolvimento é o novo nome da Paz.