D. Manuel Linda considera que D. António Ferreira Gomes encarnou a longa tradição que carateriza os bispos do Porto na defesa acérrima da liberdade da Igreja e na preocupação com o bem comum da sociedade.
A diocese do Porto viveu na sexta-feira, 18 de outubro, um dia de evocação da memória de D. António Ferreira Gomes nos 60 anos da Carta a Salazar e nos 50 anos do seu regresso do exílio. Numa organização do Cabido da Sé do Porto e da Fundação SPES, este dia foi de especial homenagem ao bispo do Porto a quem a ditadura do Estado Novo fechou as fronteiras do país.
Este evento teve lugar no Auditório do Paço Episcopal do Porto, com uma sessão de reflexão e debate. Na ocasião o bispo do Porto deixou clara a importância de D. António Ferreira Gomes para a Igreja e para a sociedade considerando ter sido um “arauto dos tempos novos”. Um bispo que assumiu com “ousadia” e “valentia” a “fidelidade à longa tradição que caracteriza os Bispos do Porto: defesa acérrima da liberdade da Igreja e não menor preocupação com o bem comum da sociedade” – disse D. Manuel Linda.
Dos notáveis bispos do Porto, D. Manuel Linda, citou o Venerável D. António Barroso autêntico “mártir da República” e, mais recentemente, D. António Francisco dos Santos, tendo afirmado que foi alguém que fez “despontar” no “coração do povo” um “amor que nem a morte conseguiu extinguir”.
O bispo do Porto, na sua intervenção, assinalou que D. António Ferreira Gomes promoveu a criação de uma “mentalidade social” assente nos valores da verdade, liberdade e justiça, tendo destacado as “homilias da paz” que proferiu “logo após o regresso do exílio” demarcando-se da guerra colonial.
D. Manuel Linda assinalou ainda o facto de que “depois da revolução dos cravos muitos dos pais da nossa democracia” eram “originários do Porto e, quase sempre, das relações pessoais de D. António Ferreira Gomes” que foi figura importante na construção da “liberdade democrática” de que o país hoje pode usufruir – sublinhou o bispo do Porto.
O dia de evocação da figura de D. António Ferreira Gomes foi preenchido pelos testemunhos de Amândio Azevedo, Levi Guerra, Jorge Cunha e Emanuel Brandão numa mesa-redonda moderada pelo jornalista Júlio Magalhães. Significativas as reflexões de especialistas. Destaque para a reflexão do historiador Paulo Fontes que apresentou uma comunicação sobre “D. António Ferreira Gomes e o movimento católico no século XX”. Referiu que o então bispo do Porto foi uma figura “exemplar”, “um homem de consciência” marcado pela “fidelidade ao Evangelho e à Igreja”.
Sobre a atualidade do pensamento de D. António Ferreira Gomes, Paulo Fontes sublinha três aspetos essenciais: a reflexão entre o ser cristão e ser cidadão, a visão crítica de certas formas de apostolado e a relação entre o agir e o pensar.
Sobre o alcance deste dia de homenagem e memória, o presidente da Fundação SPES, José Ferreira Gomes, familiar de D. António, recorda o dia em que o bispo do Porto se despediu da diocese, como o último em que viu a sua própria mãe. Salienta o facto de ter ouvido um dos seus familiares dizer a D. António para não sair do país porque não regressaria.
O presidente da Fundação SPES sublinha que este dia de homenagem a D. António Ferreira Gomes teve como objetivo “celebrar” os anos de trabalho do bispo do Porto “depois do seu regresso do exílio”. Anos marcados pela “inovação pastoral” – afirmou.
O dia 18 de outubro, na evocação de D. António Ferreira Gomes, culminou na Catedral do Porto com um momento de teatro e música com o título “Um bispo para sempre”.
(RS)