Sínodo e a cultura dos povos

Tenho lido sobre o Sínodo Amazônico e o seu decorrer. Penso que os órgãos de comunicação têm centrado muito as atenções em presbíteros casados e no papel das mulheres no governo da Igreja. Não creio, porém, ser esta questão fundamental para as cristãs e os cristãos de hoje.

Por Joaquim Armindo

O número de presbíteros é escasso na Amazônia ou aqui, em todo o lugar existe uma escassez de ministros ordenados. Os diáconos são uma exceção, continuam a crescer, e a grande maioria são casados. E também não será por essa “escassez” que se decide a obrigatoriedade do celibato ou não, ou o “papel” das mulheres na Igreja. Seria reduzir estas questões, que são prementes resolver, a uma “falta” e não ao problema de fundo, quer sobre o casamento, quer sobre as mulheres. Há inúmeras tradições cristãs onde o casamento não é questão, e as mulheres são ordenadas até ao episcopado. Constitui para a Igreja Católica Romana um olhar sobre a Humanidade e decernir quando é que resolve sobre o celibato e a ordenação das mulheres e não será neste Sínodo que isso terá a maior centralidade, pode ser unicamente um “pontapé de saída”.

O sínodo amazônico tem outra centralidade que é sobre a “cultura dos povos” e o seu reconhecimento, numa descolonização que tenderá a desenvolver-se em toda a Igreja, isso incomoda porque dá a conhecer as maravilhas do Senhor e a atuação de muitas formas da pluralidade das mensagens do seu Espírito. Através das culturas enraizadas de cada povo como o louvor ao Senhor é o mais pertinente. Esta é uma afirmação, por exemplo, dos 39 artigos de fé anglicanos, onde se refere que as Tradições locais no louvor a Deus e sua Palavra, são exercidas de muitas formas (Artigo XXXIV). Toda esta descolonização é o âmago do sínodo, o resto virá por acréscimo.

Natural que gerem preocupações em algumas latitudes teológicas, como constituiu o contrário em tempos idos. Mas todos os que pensam de forma diferente têm tido a oportunidade de fazer ouvir a sua voz e sem excomunhões. O padre Joaquim Figueiredo ou Bartolomé de Las Casas ou António Vieira estarão satisfeitos com este caminhar. Nós também!