27 de Outubro de 2019
Indicação das leituras
Leitura do Livro de Ben-Sirá Sir 35,15b-17.20-22a
«Quem adora a Deus será bem acolhido e a sua prece sobe até às nuvens».
Salmo Responsorial Salmo 33 (34)
«O pobre clamou e o Senhor ouviu a sua voz».
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo 2 Tim 4,6-8.16-18
« O Senhor me livrará de todo o mal e me dará a salvação no seu reino celeste».
Aclamação ao Evangelho 2 Cor 5,19
Aleluia.
Deus estava em Cristo reconciliando o mundo consigo
e confiou-nos a palavra da reconciliação.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas Lc 18,9-14
«Jesus disse a seguinte parábola para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros».
«Todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado».
Viver a Palavra
Jesus continua a Sua longa viagem até Jerusalém, fazendo de cada encontro uma oportunidade para anunciar a novidade do Evangelho que é Ele próprio e para comunicar este jeito novo de ser discípulo que se traduz num modo novo de ser e de estar, porque é um modo novo de servir e amar. Seguir Jesus Cristo significa colocar-se com Ele a caminho, assumindo um novo modo de se relacionar com Deus e com os outros.
Cada baptizado é chamado a viver o mandamento novo do amor, num amor absolutamente centrado em Deus e universalmente alargado aos irmãos, afinando o Seu coração com o Coração de Jesus, para que a Sua vida faça ecoar no tempo e na história a mais bela melodia do amor e da ternura.
«Estar sempre com Jesus, este é o meu programa de Vida», assim afirmava o Venerável jovem Carlo Acutis que assumindo desde tenra idade o desejo de seguir Jesus, depressa percebeu que tudo isso só é possível numa vida de intimidade e relação com Deus através da oração.
A Liturgia da Palavra deste Domingo convida-nos a pensar no modo como rezamos e no modo como nos situamos diante de Deus e dos irmãos: «Jesus disse a seguinte parábola para alguns que se consideravam justos e desprezavam os outros». Jesus conta esta parábola para mim e para ti, para que sejamos capazes de nos libertar do egoísmo e da arrogância que tantas vezes nos habitam e que necessariamente influenciam a nossa relação com Deus e com os irmãos.
A verdadeira oração cristã é chamada a ser lugar de verdade e de autenticidade. Efectivamente, diante de Deus não pode ser de outra forma, pois estamos diante Daquele que tudo sabe, que conhece bem a nossa vida e que, não obstante tudo isto, nos ama e nos acolhe para nos apontar o caminho da verdadeira felicidade.
Quer a primeira leitura quer o Evangelho afirmam com toda a clareza que a Deus agrada a oração do pobre e do humilde, daquele que se reconhece pecador e não teme apresentar os Seus fracassos e fragilidades, para que o bom Deus tomando tudo em Suas mãos nos possa moldar pela força transformadora da Sua ternura e da Sua misericórdia.
«Dois homens subiram ao templo para orar; um era fariseu e o outro publicano». Estes dois homens dirigem-se para o mesmo lugar e levam consigo o mesmo objectivo: orar. Contudo, como é diferente a atitude e a postura de cada um: «o fariseu, de pé» e «o publicano ficou à distância e nem sequer se atrevia a erguer os olhos ao Céu; mas batia no peito». Como é diferente o conteúdo da oração de cada um: o fariseu apresenta os seus créditos diante de Deus e a factura de tudo quanto tem feito, por seu lado, o publicano de coração arrependido apresenta os seus fracassos e fragilidades e invoca a compaixão de Deus.
Na nossa oração, tal como na oração do fariseu e do publicano, revela-se a nossa imagem de Deus, de nós próprios e dos outros. Por isso, parafraseando um provérbio popular, poderíamos dizer: «diz-me como rezas e dir-te-ei quem és».
A nossa vida orante deve ser o lugar da verdade daquilo que nós somos e daquilo que o Senhor nos chama a ser. Diante de Deus, somos todos mendigos e pecadores, mas reconhecemos como afirmava Pascal que «a grandeza do homem está na consciência da própria miséria». A nossa fragilidade e pecado não são um obstáculo à nossa relação com Deus mas o lugar oportuno onde Deus manifesta o Seu amor e a Sua misericórdia e, assim, somos chamados a colocar-nos diante de Deus de mãos estendidas, ainda que vazias e sujas, para serem preenchidas pela graça.
Só as mãos vazias podem receber, só o coração que se libertou do egoísmo e da arrogância se pode preencher do amor e da graça e só os braços abertos podem abraçar o irmão que se cruza connosco na estrada da vida.
Baptizados em Cristo, como os ramos na videira, façamos da nossa vida um lugar de intimidade e encontro verdadeiro com Deus para que nos saibamos situar de um modo novo diante de Deus e dos irmãos. Assim a nossa oração deixará de ser um momento isolado, para se tornar o compasso que marca o ritmo da nossa existência.
Homiliário patrístico
Do Tratado de São Cipriano, bispo e mártir,
sobre a Oração Dominical (Séc. III)
As palavras e petições dos que oram devem ser ordenadas, tranquilas e discretas. Pensemos que estamos na presença de Deus e que devemos agradar aos seus olhos, tanto pela atitude do corpo como pelo tom da voz. Porque assim como é falta de educação falar em altos gritos, também é próprio de pessoas bem-educadas rezarem com recolhimento e modéstia. De facto, o Senhor mandou-nos e ensinou-nos a rezar em segredo, nos lugares escondidos e remotos e até nos próprios aposentos. A fé ensina-nos que Deus está em toda a parte, escuta e vê a todos, e na plenitude da sua majestade penetra nos lugares mais recônditos.
Segundo conta o Primeiro Livro dos Reis, Ana, que era figura da Igreja, guardava e conservava interiormente as coisas que pedia a Deus, dirigindo-se a Ele não em altas vozes mas com silêncio e modéstia, no segredo do seu coração. Ao falar, a oração era escondida, mas a fé manifesta; não falava com a voz mas com o coração, sabendo que deste modo Deus a ouviria. Assim obteve o que pedia, porque pediu com fé. Afirma-o claramente a divina Escritura: Falava em seu coração; apenas movia os lábios, sem se lhe ouvir palavra alguma; mas o Senhor atendeu-a. Do mesmo modo lemos nos salmos: Orai em vossos corações; e arrependei-vos no silêncio dos vossos aposentos. O mesmo sugere e ensina o Espírito Santo por meio de Jeremias, quando diz: Dizei em vossos corações: só a Vós, Senhor, devemos adorar.
Portanto, irmãos caríssimos, quem adora não deve ignorar o modo como o publicano orou no templo, juntamente com o fariseu. Não tinha os olhos atrevidamente levantados para o céu, nem erguia as mãos com insolência, mas, batendo no peito e confessando os pecados ocultos, implorava o auxílio da misericórdia divina. Entretanto o fariseu comprazia-se em si mesmo. Assim mereceu ser justificado o que orava com humildade, porque não tinha posto a esperança da sua salvação na própria inocência, pois ninguém é inocente. Orou, confessando humildemente os seus pecados. E Aquele que perdoa aos humildes escutou a sua oração.
Indicações litúrgico-pastorais
- O Domingo XXX do Tempo Comum antecede a celebração da Solenidade de Todos os Santos e a Comemoração de Fiéis Defuntos. Por isso, para uma vivência marcada pela alegria e pela esperança cristã próprias destes dois dias litúrgicos seria oportuno, ao longo desta semana, um encontro de formação e/ou oração em que o sentido e a importância de cada um destes dias pudesse ser mais bem compreendido pelos fiéis. Um óptimo recurso para este momento pode ser a Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate do Papa Francisco sobre a santidade no mundo actual.
- Para os leitores: a primeira leitura é constituída por um conjunto de sentenças sapienciais e, por isso, a sua proclamação deve ser preparada de modo que as diversas frases, respeitando as pausas e respirações, não apareçam como afirmações isoladas, mas encadeadas e articuladas entre si. Na segunda leitura, deve ter-se em atenção as frases mais longas e sobretudo aquelas divididas com o sinal de pontuação ponto e vírgula, para que se possam fazer as pausas adequadas e a proclamação expresse toda a força do texto que S. Paulo apresenta.
Sugestões de cânticos
Entrada: Alegre-se o coração – F. Lapa (BML 145-146); Salmo Responsorial: O pobre clamou, o Senhor o ouviu (Sl 33) – M. Luís (SRML, p. 324-325); Aclamação ao Evangelho: Aleluia| Deus estava em Cristo – Mel. Francesa (Guião 2014-XL;ENPL); Ofertório: Jesus Cristo amou-nos – F. Santos (NCT 511); Comunhão: Eu vim para que tenham vida – F. Silva (NRMS 70); Final: Como os Ramos na Videira – J. J. Ribeiro (Hino para o triénio pastoral 2019/2020 – Site da Diocese do Porto).