Há dias, a imprensa internacional deu algum relevo à prisão de mais um activista político egípcio, detido pelas forças de segurança do governo do general al Sissi que chegou ao poder em 2014, na sequência de um golpe militar que pôs fim ao breve consulado de Mohamed Morsi.
Por António José da Silva
Este era um político considerado próximo da Irmandade Muçulmana, o que só por si levantara fortes reservas em todos aqueles não partilhavam as ideias sociais e políticas deste grupo mais ou menos extremista. Entre aqueles que mais se opunham à ascensão política deste grupo estavam as chefias militares que acabaram por se rebelar e escolheram o seu líder, o general Sissi, para chefiar um novo governo,
Face às dúvidas que o golpe militar levantou, sobretudo a nível externo, Al Sissi garantiu que o Egipto não só afastara o perigo da ameaça extremista representada pala Irmandade Muçulmana, como também garantiu que o futuro do país seria construído em democracia e no progresso económico. Mas a convocação de eleições serviu essencialmente para pintar o novo regime militar com as cores de uma falsa democracia. Rapidamente se constatou que os cidadãos não podiam expressar livremente a sua oposição ao regime, como ficou provado pelo número de detenções que foram crescendo a um ritmo assustador.
É certo que o regime militar fez do Egipto um país mais seguro, e isso foi importante para a recuperação do turismo, base fundamental da sua economia. Mas um regime ditatorial provoca sempre reacções de protesto mais ou menos violentas, como vem acontecendo já com alguma visibilidade, embora ainda sem a expressão dos acontecimentos que levaram à queda de Hosni Mubaak. A História ensina que a violência de um regime gera quase sempre respostas violentas, pelo menos por parte de cidadãos que estão dispostos a correr riscos, e no Egipto há quem esteja disposto a correr esses riscos. O facto é que, se atendermos a algumas notícias que nos chegam deste país, temos a impressão de que regressamos ao tempo das manifestações que enchiam as grandes praças do país.
Foi no ano de 2010 que se geraram no norte de África os primeiros movimentos sociais e políticos que haveriam de constituir os primórdios daquilo que depois se chamou a Primavera Árabe. Em quase todo o mundo, e de modo particular no Ocidente, acreditou-se que muitos países árabes, Egipto incluído, não resistiriam à inesperada onda de democratização que haveria de mudar o seu rosto social e político, mas foi uma crença passageira. O exemplo mais visível desta esperança frustrada é o Egipto, onde a Primavera nem chegou a florir.