Era um jovem de 27 anos, quando, em 27 de setembro de 1969, entrou na paróquia de S. Nicolau, na Ribeira do Porto. O Conselho Pastoral, sob o lema «50 anos em comunidade – evangelizar e servir», comemorou essa data em dois momentos.
Por João Alves Dias
O primeiro, na noite do passado dia 27, foi um encontro feito de orações, cânticos, leituras bíblicas, gestos simbólicos, metáforas e testemunhos em que os mais idosos davam voz à memória e os cânticos dos mais novos, ritmado pelo balbuciar dos bebés, abriam para renovados horizontes de esperança.
O segundo aconteceu na tarde do dia 28, com uma Eucaristia, presidida por D. Manuel Linda que, na homilia, comentando a parábola do “pobre Lázaro”, realçou as duas veredas que os cristãos devem calcorrear: uma, vertical, que nos leva até Deus e outra, horizontal, que nos liga aos irmãos. Para concluir que estas duas coordenadas têm orientado a vida do P. Jardim.
E duas perguntas me ficaram:
– Que comunidade é esta que sumariou cinquenta anos de vida sacerdotal com apenas dois verbos: evangelizar, servir?
À imagem do seu pároco, é gente de bem que faz da união a sua força onde todos se desdobram em serviços sem donos nem mandões; um «pequeno resto» que cultiva um forte sentido de pertença e missão; um «fermento» de convivência entre vizinhos; pessoas afáveis, de coração sempre disponível para acolher quem delas precise.
– Que sacerdote é este que gostaria de ser recordado “como alguém que lutou pelo bem do próximo e não desanimou”? (17/12/2018)
A preocupação pelos mais pobres, bebida no seio materno, fez-se opção de vida ao dizer a D. António que gostaria de ir para uma “paróquia pobre e descristianizada”. D. António, regressado do exílio em julho de1969, logo em setembro, nomeou-o para S. Nicolau, então um viveiro de gente pobre apinhada em lúgubres tugúrios e onde o próprio pároco não tinha casa para viver. Na sua entrada na paróquia, o sacristão foi a única pessoa que o recebeu. E quando passava na rua era mimado com «piropos» como: “vai trabalhar, ó moina!”.
Pobre entre pobres, cedo compreendeu “que Deus o enviava a Amá-los com o seu Amor, a amá-los na sua integridade total, como Jesus fez e nos ensinou na resposta que dá na parábola do Bom Samaritano: vai e faz tu também o mesmo”. Ao fazer 25 anos como presidente da «EAP/Rede Europeia Anti-Pobreza» confessou: “Assumir esta função deu-me a oportunidade de poder ser mais interventivo, de atuar numa esfera social que me é particularmente tocante; de, com inteira liberdade e alegria, sem medo e com esperança, lutar pelas pessoas mais desfavorecidas, dignificando-as.”
Esclarecido no pensar, perseverante no agir, afável no trato, o P. Jardim procura «transformar o mundo, de selvagem em humano e de humano em divino» (Pio XII): “Sou realista. E vejo a realidade perigosa. Mas sou otimista porque tenho fé e acredito num mundo de amor e não em marionetas de falsa felicidade”