
A Diocese do Porto viveu um dia grande no passado Domingo: na Matriz da Diocese, a Sé do Porto, foi ordenado um novo Bispo. A celebração do Sacramento da Ordem – a par da Vigília Pascal no ritmo do ano e da mais excecional Dedicação de uma Igreja – é das mais belas liturgias que podemos viver.
Por Secretariado Diocesano da Liturgia
O II Concílio do Vaticano, na Constituição dogmática Lumen Gentium (n. 10), para além de afirmar a distinção essencial entre o sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio hierárquico, sublinha que ambos se ordenam mutuamente um ao outro. Muito bem o entendem os fiéis ao apinharem a Catedral, numa participação viva e intensa, comprovando que as Ordenações – e especificamente a ordenação episcopal – é uma «Festa da Igreja» e da sua apostolicidade.
É interessante anotar como esta dimensão é destacada no Pontifical, o livro litúrgico usado nas celebrações presididas pelos Bispos. No nº 9 da Ordenação do Bispo dos Presbíteros e dos Diáconos [= OBPD] sublinha-se que nesta Liturgia «se unem a principal manifestação da Igreja e a colação das sagradas Ordens com o Sacrifício eucarístico, fonte e vértice de toda a vida cristã». Recordamos, a propósito, que, segundo SC 41, aqui citada, «a principal manifestação da Igreja faz-se numa participação perfeita e ativa de todo o Povo santo de Deus na mesma celebração litúrgica, especialmente na mesma Eucaristia, numa única oração, ao redor do único altar a que preside o Bispo rodeado pelo presbitério e pelos ministros». Também por isso se recomenda expressamente que se realize a Ordenação com o maior concurso possível de fiéis, num domingo ou dia festivo, a não ser que razões pastorais aconselhem outro dia (cf. OBPD 22).
Respiguemos aqui algumas manifestações deste carácter eclesial da ordenação do Bispo:
– Segundo uma tradição muito antiga, «o Bispo ordenante principal deve estar acompanhado pelo menos de mais dois Bispos» (OBPD, n. 16). Mas todos os Bispos presentes devem ser «coordenantes», impondo as mãos sobre o novo Bispo, proferindo a parte estabelecida da Oração de Ordenação e saudando-o com o ósculo da paz (Ibid.). Pode dizer-se que a ordenação de um Bispo é uma experiência forte de «sinodalidade», implicando a colegialidade episcopal, sempre em comunhão com o Papa que é a cabeça visível do Colégio Episcopal.
– Além dos Bispos, todas as ordens eclesiásticas estão envolvidas: o eleito é acompanhado por 2 presbíteros que lhe assistem, competindo a um deles a «postulação» da ordenação, em nome da Igreja particular. O Pontifical recomenda que outros presbíteros, sobretudo da mesma Diocese, concelebrem. Também os diáconos têm um papel imprescindível, porque a dois deles compete sustentar o livro dos Evangelhos aberto sobre a cabeça do eleito durante toda a Oração de Ordenação.
O Pontifical supõe a participação ativa da assembleia:
– Na aclamação do povo após a leitura da carta apostólica de nomeação;
– Após a homilia, o ordinando manifesta «na presença do povo» o propósito de guardar a fé e exercer o ministério; nas perguntas a que responde põe-se de forma determinada ao serviço do Povo Santo de Deus;
– Na súplica litânica, a Igreja Peregrina une-se à Igreja celeste dos bem-aventurados numa prece unânime;
– Durante a imposição das mãos e a Oração de ordenação, os fiéis escutam, confirmam e concluem com a aclamação;
– Nos ritos explicativos, destaque para a recomendação que acompanha a entrega do anel e do báculo: «sê fiel à Igreja e guarda-a como esposa santa de Deus»; «cuida de todo o rebanho no qual o Espírito Santo te constituiu como Bispo, para regeres a Igreja de Deus».
– O novo Bispo inaugura o seu ministério percorrendo a assembleia e abençoando os fiéis, enquanto estes cantam os louvores de Deus («Te Deum»).
Não são meras alusões de circunstância. À sua expressão litúrgica corresponde uma efetiva relevância eclesiológica. A verdade do ministério apostólico é indissociável da verdade da Igreja una, Santa, católica e apostólica: não há Bispo sem Igreja nem Igreja sem Bispo.