Pensar em votar

“O poder corrompe sempre e o poder absoluto corrompe absolutamente”

Lord Acton, Político protestante, sec. XIX

Escrever livros e programas de partidos é uma coisa, fazer política é outra. Pensamento político bem estruturado é essencial, saber para onde se vai e como; mas não é tudo. Exige-se capacidade para descobrir medidas adequadas à sociedade e não à ideologia; tem de se dispor do poder dos votos e de crédito político; comunicar com eficácia a mensagem; negociar com honestidade; numa palavra, idoneidade.

Por Ernesto Campos

A par de gente muito digna, há quem se meta na política sem saber o que anda lá a fazer ou fazendo dela espaço de jogo desleal, convencido até de que política é mesmo isso e oportunidade de enriquecer. Isto quanto às pessoas que povoam o universo do Poder. Falam, nos debates e entrevistas, de impostos, de coisas concretas – aeroporto, TGV, parcerias na saúde, salários e reformas. É o que ouvimos e lemos na TV, Rádio e nos jornais. E bem porque é o que mais diretamente interessa à vida quotidiana. Dizendo o que vão fazer, os partidos em campanha não dizem o que pensam fazer (ou desfazer) quanto a muitas outras coisas que são também de importância vital, para não ferir suscetibilidades e perder votos. Nada nos dizem sobre a eutanásia, aborto, casamento homossexual, mudança de sexo, “barrigas de aluguer”… E são matérias, estas, que, por natureza e por definição, remetem para outro registo de análise, que envolve a dignidade humana e questiona – Que sociedade somos? Que Estado queremos?

Desde os gregos e até aos tempos da modernidade, os conceitos de sociedade civil e de Estado têm-se confrontado ao longo da história do pensamento ocidental. Ora o Estado se define como comunidade política em que o indivíduo só vale enquanto membro da polis (Aristóteles) – os escravos e inimigos nem são gente: ora o Estado é a entidade que, por contrato com a sociedade civil, liberta o homem do seu natural estado selvagem (Hobbes) – o homem lobo do homem: ora, ainda, o Estado é a expressão suprema da racionalidade (Hegel) e daí o seu direito de exigir do cidadão os seus bens (impostos) e até a vida, em caso de guerra. Depois disto, a sociedade civil descobre-se a emerge a teoria da extinção do Estado e da sociedade sem classes (Marx).Em tempos de declaração dos direitos humanos só pode dizer-se que o Estado “é constituído para estar ao serviço da sociedade civil da qual deriva” (Compêndio de Doutrina Social da Igreja” p.263.

Todavia, nos programas de alguns partidos são notórios propósitos de totalitarismo e de radicalismo, ao arrepio do bom senso e do bom gosto, e, mais, afrontando o quadro cultural e ético do modo de viver europeu e cristão.

Sabemos quem são os líderes partidários que nos vão governar e legislar, Sabemos o que pensam sobre os dinheiros e o modo de os gastar. Mas, que vão fazer, por exemplo, quanto à natalidade e a Família? Em vários países há um ministério da família. Aqui já houve.

Pode/deve o Estado legislar sobre estas coisas? Sim, pensamos, se é em vista do bem comum, respeitando o primado da sociedade civil; não, se se trata de imposição ideológica, como tem acontecido. Então, tão importante como quem deve governar, é saber como conter o Estado nos seus limites quanto às coisas da bolsa e quanto às coisas da “alma”.