
Os senhores dos poderes políticos – e até religiosos -, “sentindo-se incomodados pela participação dos que foram constituídos protagonistas do processo sinodal [Sínodo Pan-Amazônico] os povos originários, que denunciaram a onda de destruição e morte que os atuais governantes [do Brasil] estão impondo à região, apelaram para o velho chavão de que a Igreja boa é aquela que fica na sacristia falando de temas espirituais, como se a fé a vida não se tocassem.
Por Joaquim Armindo
Religião trata de temas espirituais e morais individuais, mas quando o assunto é sério, sobretudo entra a razão do mercado, a religião não tem mais nada a dizer?” – escreve D. Sérgio Eduardo – Arcebispo de Manaus (Brasil). E continua: “O cristianismo não é assim…Deus entrou na história humana e está comprometido com ela. Podemos dizer que Deus ao se submeter às leis da natureza em Jesus sofre junto com a humanidade e a destruição do meio ambiente afeta todas as criaturas. E, como Paulo, sabemos que os sofrimentos da humanidade completam os sofrimentos de Jesus. Esta é a razão profunda pela qual a Igreja se coloca como voz dos que não têm voz.”
Afirma que a Igreja não pode ficar calada perante a injustiça e a opressão, que um diálogo sincero e vital com os povos originários da Amazônia é viver a encarnação de Jesus e continuar uma história de vida em alegria, que os massacres perpetrados, a espoliação das riquezas e os genocídios querem continuar a sufocar. “Uma Igreja de sacristia é sinónimo de uma Igreja voltada para si mesma, doente e necessitada de conversão. A liturgia, em função da qual está a sacristia, como celebração do mistério pascal, coloca o Povo de Deus no centro da história que foi o derramamento de sangue da Nova Aliança. E a memória deste sangue derramado não permite a indiferença e a omissão”.
Ai, quantas Igrejas vivem com o centro nas “sacristias”, o Arcebispo D. Sérgio fala para a Amazônia e seus povos, mas que bem calha na nossa Igreja Latina. Então as “sacristias das nossas mentes”, da nossa “razoável prudência” para os poderes políticos e económicos, que até notabilissimamente afixam “horários de atendimento” e desconhecem as saídas ao encontro de Jesus de Nazaré, tão próximo e tão longe de nós!