Editorial: A Igreja, a Amazónia e o nosso estilo de vida

Vai começar no próxima dia 6 de Outubro, em Roma, uma reunião sinodal que tem por tema: “Amazónia, novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. Muito se tem escrito sobre esta iniciativa. Mas o mínimo que se pode dizer é que se trata de mais uma ideia à Papa Francisco: consegue pôr o mundo a deitar contas à vida e a Igreja a reinventar-se para uma fidelidade cada vez maior às suas fontes evangélicas.

Por Jorge Teixeira da Cunha

Um sínodo é um acontecimento eclesial. Mas neste caso, podemos dizer que um assunto eclesial, a pastoral na Zona Pan-amazónica, que engloba o Brasil e os países que partilham a vasta bacia do Rio Amazonas, um ecossistema único no mundo, tem implicações que transcendem em muito um assunto interno.

A iniciativa do Papa coloca a protecção da Casa Comum no centro da agenda mundial, ultrapassa a velha visão da ecologia como um assunto elitista e urbano, incomoda os governos de velha guarda que mantêm visões soberanistas sobre os bens indispensáveis à sobrevivência dos viventes.

A nosso ver, é a primeira vez que tal acontece: a Igreja Católica consegue influenciar a disputadíssima agenda mundial dos media e da política de forma profunda. E por essa via, consegue um respeito muito para lá da reverência protocolar e formal das reuniões diplomáticas.

A uma olhar superficial, com esta reunião, a Igreja está a exorbitar da sua função e tratar de um assunto que não lhe compete: a floresta amazónica. Nada menos correcto. De facto, não se trata de um problema de florestas, mas de um problema de estilo de vida da humanidade. E isso compete-lhe profundamente. A igreja não se ocupa da questão ecológica por mera diletância, mas por uma moção bem enraizada na Evangelho e na teologia.

Foi o próprio Papa Francisco que deu sentido a essa nova perspectiva ao pôr a circular a expressão cuidado da “Casa Comum”, a qual se tem conhecido um belo percurso em tantos contextos que já lhe esqueceram a origem.

Ao reunir este sínodo, a Igreja convida a um amplo movimento de metanoia, ou seja, de transformação profunda de um estilo de vida, que está a fazer adoecer os que vivem na abundância e a fazer perecer os que vivem na miséria. Ora, essa foi sempre a função do Evangelho de Jesus.

Não se entende muito bem a razão pela qual alguns sectores da Igreja ficam incomodados. É mais fácil de entender o incómodo que a proposta causa nalgum governo. Mas num e noutro caso, o incómodo causado é sinal de saúde e de eficácia da Igreja.

Pelo mesmo caminho, o próximo Sínodo reverá pontos centrais do seu funcionamento, como seja a sua estruturação num tempo em que escasseiam os ministros da Eucaristia em zonas remotas e não só. De facto, a Eucaristia é o centro da vida eclesial. Por isso, nem pode ser baixada a exigência de qualidade dos ministros que presidem a ela, mas também não pode o Povo de Deus ser privado da Eucaristia, quando não há ministros como perfil que têm tido até agora.

Como proceder? Deixemos que o Espírito Santo inspire as pessoas participantes nessa reunião do próximo mês de Outubro.