Bartolomeu I: dádiva das relíquias de Pedro é “sinal do verdadeiro amor fraterno” entre católicos e ortodoxos

Foto: Vatican News

Publicamos aqui um excerto da entrevista que o Patriarca Ecuménico de Constantinopla, Bartolomeu I, concedeu ao Vatican News e ao L’Osservatore Romano na reportagem de Andrea Tornielli. Nela fala da sua surpresa pelo inesperado presente recebido do Papa Francisco.

P: Qual foi a sua primeira reação quando recebeu do Papa Francisco o presente do relicário contendo os 9 fragmentos de ossos considerados como sendo do Apóstolo Pedro?

R: Devemos admitir que, no começo, ficamos muito surpresos ao saber que Sua Santidade, nosso irmão Papa Francisco, nos tinha presenteado com tal tesouro. Este gesto surpreendeu a muitos. Nem mesmo a delegação do Patriarcado Ecuménico que estava em Roma para a festa patronal de nossa Igreja irmã esperava isto.

Geralmente, este tipo de evento é objeto de discussões protocolares. Não foi assim desta vez. Apreciamos com toda a sinceridade este presente, que é a manifestação de uma espontaneidade, um sinal do verdadeiro amor fraterno que hoje une católicos e ortodoxos.

P: Qual é o significado desse gesto?

R: Podemos distinguir pelo menos três significados profundos. Antes de tudo, a chegada das relíquias do Santo apóstolo Pedro à sede do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla é uma bênção por si só. São Pedro é uma figura central de santidade porque é apostólico e, em muitos aspetos próximo de todos os cristãos: ele é o apóstolo da confissão, mas ao mesmo tempo o da negação. São Pedro é testemunha da ressurreição, um sinal de esperança para todos os cristãos.

O segundo significado que deveria ser recordado é o vínculo de fraternidade que une São Pedro e Santo André, padroeiro do Patriarcado Ecuménico. Do mesmo modo que os dois apóstolos são irmãos segundo a carne, assim as nossas Igrejas de Roma e Constantinopla são irmãs.

Por fim, o terceiro significado que é mais ecuménico e refere-se à busca da unidade e da comunhão. Esse presente do nosso irmão Papa Francisco é um novo marco no caminho da aproximação, um passo crucial no diálogo de caridade iniciado há mais de cinquenta anos pelos nossos predecessores. Um diálogo que hoje é colocado sob a bênção do Santo Apóstolo Pedro. Recordemos estas palavras do apóstolo que, no nosso contexto atual, assumem uma dimensão muito especial: “Amai-vos intensamente uns aos outros, do íntimo do coração, renascidos não por uma semente corruptível, mas incorruptível, pela palavra do Deus vivo que permanece eternamente”. (1 Pedro 1, 22)