Contando uma estória

Esta estória passou-se num país, numa localidade, numa diocese, numa comunidade paroquial, que não pertence à nossa Diocese do Porto. Vamos a ela!

Por Joaquim Armindo

No primeiro cenário reconhecemos os senhores dos poderes: os patrões, agora chamados empresários, as instituições políticas da terra, agora chamados presidentes de câmara ou vereadores e os senhores que com o seu colarinho branco, sabe-se que são do clero.

Todos eles brindam ao sucesso dos empresários que após milhões gastos, conseguem dar emprego aos trabalhadores e ficar com uma fatia razoável das suas mais-valias. Bridam aos feitos e às receitas que com “caridade” conseguem distribuir benevolamente àqueles que, coitados, os fazem submergir das sonolências pródigas de quem sabe distribuir os bens pelos necessitados. Brindam às suas necessidades bem protegidas por aqueles e aquelas que dia a dia labutam com o seu suor, muitas vezes sangue, e que recebem as suas benesses, como bons serviçais, que apenas não conseguiam por si, ter moeda no banco, cobrador de chorudas comissões.

Nessa mesma localidade, à mesma hora, no mesmo dia, outros serviçais sós, pretendem só e apenas que lhes paguem os salários e não lhes tirem o trabalho. Lá não vemos nenhuns poderes, nem os empresários, nem as forças vivas e políticas da terra, nem os senhores de colarinho branco. Talvez mais tarde surjam outros senhores, também poderes que vivem à custa destes serviçais e para sua “defesa”, e que nunca ficarão sem trabalho.

Neste segundo cenário também existem brindes, mas das lágrimas derramadas, porque não podem pagar o aluguer da casa, a escola dos filhos e a saúde. Nem têm dinheiro para gastar na mercearia, agora chamada de super e hipermercados. Existem brindes das lágrimas daqueles que são os crucificados de hoje. Aqui espera-se receber as esmolas “caridosas” dos senhores, que uma vez enriqueceram à sua custa. Aqui clama-se por uma justiça que os senhores tardam a fazer funcionar. Aqui são os vizinhos que se aproximam e sem nada querer, lhes dão, sem comissões, o arroz e as batatas, o carinho e a simpatia. Aqui vislumbramos a cara de Jesus Sofredor.

Esta estória poderia ser uma história, tão longe da nossa terra, que é capaz de dar a volta ao mundo, e parar nela.