Mensagem (44): O humanismo é verde

Schillebeeckx, o grande teólogo belga, conta uma historieta significativa. À beira do bosque, mas na proximidade de muitas chaminés de fábricas que lançavam para o ar imenso fumo e não menos veneno, um rapaz e uma rapariga beijavam-se. Por esse caminho, passava o Pároco local. Vinha mal-humorado, com ataque de asma, a tossir e a gritar: “Porcos! Porcos!”. Num acesso de pudor, a menina obriga o namorado a portar-se bem. Mas este tranquiliza-a: “O senhor Abade não se refere a nós. É às fábricas”.

Na menina está personificada, de alguma forma, a moral clássica: pecado era, fundamentalmente, o que tivesse a ver com a sexualidade. O rapaz representa a sensibilidade contemporânea que desvaloriza o pecado pessoal e se fixa no ecológico.

Evidentemente, cada uma destas visões é redutora: as duas completam-se e ambas são imprescindíveis. Não obstante, o rapaz chama-nos a atenção para algo quer a moral tradicional não considerava e a que hoje começamos a prestar o devido relevo: a salvaguarda da obra da criação constitui, não só, o respeito pelo seu Autor, como é, a médio prazo, condição de sobrevivência da pessoa na terra. Mas, no imediato, é já forma de caridade social, pois a agressão à natureza traduz-se sempre em fenómenos catastróficos –doenças, secas, tempestades, inundações, furacões, etc.- que vão afetar, fundamentalmente, os mais pobres.

Porque a ciência contemporânea nos comprova que assim é, o Magistério elevou a ecologia à categoria moral de uma prioridade. Em quase todos os países da Europa central e de leste, há mais de uma dúzia de anos que os Bispos propõem um tempo de ponderação, de oração e de ação para repensar a nossa relação com a «casa comum», desde o primeiro dia de setembro, início do ano pastoral e escolar, até 4 de outubro, festa litúrgico de São Francisco de Assis, o Patrono da ecologia.

Com a encíclica Laudato si, o Papa Francisco sublinha bem que, na natureza, tudo está interligado. E que há, de facto, um pecado ecológico que se torna pecado social. Por isso, só mudando o nosso estilo de vida poderemos poupar a natureza às agressões a que a sujeitamos. E mais: há que denunciar e combater a tendência incontida do sistema económico a converter os bens da natureza em capital.

A salvaguarda da pessoa e da sua dignidade passa por aí. De facto, o humanismo é verde.

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