
A nossa diocese do Porto tem como prioridade para o ano que agora começa uma pastoral do baptismo. O objectivo mais amplo é um esforço de iniciação cristã que possa revitalizar a capacidade da atração da comunidade cristã em relação a quem anda por longe das suas raízes crentes ou simplesmente já não as tem ou nunca as teve. O lema mais geral aponta no sentido certo quando fala da metáfora da videira e dos seus ramos.
Por Jorge Teixeira da Cunha
A questão principal deste programa é encontrar o caminho para dar a viver a experiência do baptismo. Como sabemos nos dias de hoje, as pessoas apenas se interessam por aquilo que tiver um relevo vivencial imediato. Vão a concertos e a outros eventos que lhe proporcionem experiências intensas e imediatas. Usam até à dependência instrumentos que as fazem entrar dentro de intrigas que lhe tocam os cordelinhos da sensibilidade. Nem tudo isso é bom, mas é o que marca nos dias que correm.
Será que a nossa pastoral pode olhar essa virtualidade, aproveitando o que tem de bom para propor uma pastoral que dê a viver o centro da fé cristã, a partilha da existência do Senhor Ressuscitado? A coisa não é fácil mas é muito necessária e, em relação, ao baptismo de pessoas adultas é imprescindível. Claro que haverá sempre algumas pessoas adultas que baptizam para poder casar na Igreja e um certo número de famílias que continuam a baptizar, por tradição, os seus filhos crianças. Mas esses não são os que visamos com a preocupação do projecto pastoral, embora que dizemos também seja válido para esses.
Uma experiência do baptismo pode, a nosso ver, ser proposta pela via do encontro existencial com as fontes da vida humana, essa vida que os seres humanos se esforçam por produzir continuamente mediante o seu trabalho e do exercício do correspondente poder de agir. Todo o ser humano se encontra com uma dimensão que precede o seu poder de viver, aí onde se joga a tomada de posse de si ou o fracasso da força de viver que leva à mediocridade ou à deposição da força de viver. Muitos seres humanos hoje falham a fonte dessa energia e se deixam cair na dependência, na marginalidade, na neurose ou nos delírios do falso poder e do falso aparecer.
É neste terreno que pode entroncar a pastoral experiencial do baptismo, pois a força criadora e redentora do Ressuscitado encontra o ser humano nesse lugar profundo onde ele remonta à origem de si. Toda a proclamação da palavra bíblica, toda a simbólica litúrgica da celebração pode ser encaminhada para aí, toda o contacto pessoal da preparação, mediante uma condução sábia dos pastores.
Claro que destes últimos se espera que sejam capazes de ultrapassar um universo administrativo, com rigores burocráticos e com altivez de funcionários que se consideram com direito de fazer exigências desmedidas que se tornam contraproducentes. Estamos num mundo diferente. É um tempo de nos livrarmos de tantas representações do passado que hoje não levam a lado nenhum. A função da Igreja é mediar o encontro de Cristo com as pessoas e não, como foi no passado, inscrever todos no rol administrativo dos arquivos. Talvez este ano possamos dar alguns passos de modificação do funcionamento das nossas paróquias nesta direcção.