De há uns tempos a esta parte que a Itália é tema recorrente na Comunicação Social. Trata-se de um interesse mediático que não constitui propriamente novidade, já que aquele país sempre foi motivo de sobra para uma sem número de notícias.
Por António José da Silva
Desta vez, a notícia é a de que a Itália acaba da superar a crise governativa despoletada, há poucos dias, pelo anúncio da demissão do primeiro ministro Giusepe Conti, do Partido Democrático, conotado com o centro esquerda. Foi uma demissão que resultou dos problemas levantados pela vitória, nas últimas eleições, de dois partidos de carácter populista, a Liga do Norte e o Cinco Estrelas, nomeadamente pelo primeiro, cujo líder não escondia o seu desejo de chefiar um novo governo. Isto implicaria, naturalmente, a realização de novas eleições que ele acreditava que venceria facilmente.
Independentemente de algumas diferenças entre si, o que aproximava aqueles dois partidos era, sobretudo, o seu projecto de romper em definitivo com a história recente da política italiana. Foi uma história marcada por múltiplas acusações de corrupção e de escândalos que deram à “Liga do Norte” e ao “Cinco Estrelas” argumentos de sobra para se apresentarem ao povo como salvadores da honra da pátria.
Não constituiu portanto uma grande surpresa que um e outro tivessem vencido, ainda recentemente, as últimas eleições reslizadas no país. A única diferença digna de registo é a de que a Liga do Norte tenha superado o ainda seu companheiro de coligação. Certamente por isso, Salvini esperava, pelo menos até há bem pouco, a oportunidade de chefiar o novo governo italiano.
A verdade é que “Liga do Norte” deixou de ser um grupo político regionalista, como foi originariamente, para assumir a condição de um grande partido nacional, xenófobo e mesmo antieuropeu. O seu líder, Salvini, foi vice-primeiro ministro com a responsabilidade pela pasta do Interior, certamente o cargo mais importante do governo de Conti, ou pelo menos o cargo mais mediatizado.
O seu comportamento político e humano na crise dos refugiados levantou uma onda generalizada de incompreensão e de protestos em grande parte dos países europeus. Mas o facto é que ele resistiu e só se rendeu à força de uma ordem judicial, sempre com argumentos que lhe garantem a compreensão e até o aplauso de uma grande parte da opinião pública do seu país. E aí é que está o verdadeiro problema. É certo que já não haverá eleições, pelo menos proximamente, e ele não chefiará um novo governo, mas isso não impede que nos perguntemos para onde é que caminha a Itália …