
Quando os três peregrinos iam a passar diante da tenda, Abraão ofereceu-lhes alimentos, num gesto típico da hospitalidade bíblica. E entre estes estava o pão alveiro, feito por Sara, com “flor de farinha” (Gn 18, 6). Por causa disto, mais tarde, esta passou a ser matéria de culto, pois o código sacerdotal ordenava que, no templo de Jerusalém, entre os vários sacrifícios, se incluísse o incruento da farinha, a ser oferecido diária e perpetuamente (Ex 29, 40).
Os estudiosos da Bíblia veem na farinha uma imagem de Cristo, manso e humilde, sem qualquer resistência, dureza ou impureza. E não poderia ser, igualmente, figura do cristão, também ele transformado no moinho do Batismo de grão duro do homem velho na brancura e limpidez do homem novo? Aliás, o símbolo da veste branca aponta para aí.
Neste caso, Deus é o verdadeiro autor da flor da farinha que somos nós. É Ele quem nos transforma no sacramento. Agradecemos-lhe esta graça sublime e salvadora.
Mas, para haver pão, não chega farinha: é necessário água, fermento e o calor do fogo. Pois bem, é aqui que entram as virtudes teologais: a fé, estreitamente interligada com o Batismo; a esperança, empenho na edificação do Reino de Deus e certeza do seu cumprimento; e a caridade, fogo de um amor recebido do Alto para se tornar amor difundido ao lado e ao largo.
Iniciamos um novo ano religioso e um novo ciclo pastoral precisamente centrado na Pessoa de Deus Pai e na iniciação cristã, a começar pelo Batismo. Tomemos consciência de que nós, os “configurados com Cristo”, somos a flor da farinha com que Deus sustem a sociedade. Ou “a alma do mundo”, como se dizia na Patrística. Mas, só por si, a farinha não mata a fome. Então, ao longo deste ano, juntemos-lhe a tal água da fé, o fermento da esperança e o calor da caridade para que surja o pão alveiro da alegria e da fraternidade que alimenta e congrega à mesma mesa.
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