Domingo XXIV do Tempo Comum

Foto: João Lopes Cardoso

15 de Setembro de 2019

 

Indicação das leituras

Leitura do Livro do Êxodo                                                                     Ex 32, 7-11.13-14

«Lembrai-Vos dos vossos servos Abraão, Isaac e Israel, a quem jurastes pelo vosso nome».

 

Salmo Responsorial                                                                                Salmo 50 (51)

«Vou partir e vou ter com meu pai».

 

Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo a Timóteo            1 Tim 1, 12-17

«A graça de Nosso Senhor superabundou em mim, com a fé e a caridade que temos em Cristo Jesus».

 

Aclamação ao Evangelho           2 Cor 5, 19

Aleluia.

Em Cristo, Deus reconcilia o mundo consigo

e confiou-nos a palavra da reconciliação.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas              Lc 15,1-32

«Este homem acolhe os pecadores e come com eles».

«Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida».

«Comamos e festejemos, porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado».

 

Viver a Palavra

A Liturgia da Palavra deste Domingo é uma verdadeira visita guiada ao coração de Deus. Jesus revela-nos o rosto do Pai e abre-nos uma janela com vista directa para o Seu coração cheio de amor e misericórdia. Deste modo, tal como afirmou o Papa Francisco na primeira homilia dominical do seu pontificado: «a mensagem de Jesus é sempre a mesma: a misericórdia. A meu ver – humildemente o afirmo –, é a mensagem mais forte do Senhor: a misericórdia».

Deste modo, estamos no centro da mensagem evangélica e contemplamos a identidade de Deus, a sua ontologia, que necessariamente caracteriza todo o Seu agir e o modo como se relaciona connosco. O nosso Deus é o Deus do amor e da alegria, o Deus do perdão e da festa que não permite que o nosso pecado, que o mal e o sofrimento tenham a última palavra.

A nossa fragilidade e o nosso pecado não são um obstáculo à misericórdia de Deus, mas uma oportunidade de encontro com a ternura do Pai que rasga diante de nós um horizonte de esperança pela estrada sempre nova da conversão.

Como o Povo de Israel, também nós, peregrinando rumo à pátria celeste, tantas vezes nos desviamos do caminho e construímos bezerros de metal fundido, depositando a nossa vida e a nossa esperança em quem não nos pode salvar. Na verdade, já não temos Moisés a interceder por nós, mas o próprio Deus, revelado em Jesus Cristo, como mediador da Nova e Eterna Aliança, que pela Sua morte na Cruz nos redime e salva e nos recorda o amor persistente do pastor que perdeu a sua ovelha, da mulher que não sabe da sua dracma e do pai que respeitando a liberdade do seu filho o vê partir para longe.

Estamos diante do capítulo quinze do Evangelho de S. Lucas, uma longa e única parábola em três andamentos. Diante da indignação dos escribas e fariseus que murmuram entre si porque Ele acolhe os publicanos e pecadores, Jesus conta-lhes esta parábola. Jesus dirige-se a eles e neles a todos e cada um de nós.

Jesus acolhe a todos: publicanos e pecadores, escribas e fariseus. Para todos, Jesus tem uma palavra de amor e de esperança, de interpelação e provocação. Na verdade, estas parábolas dizem-nos que tanto nos podemos perder lá longe como a ovelha e o filho mais novo, como nos podemos perder em casa como a moeda ou o filho mais velho.

É certo que muitas vezes nos revemos mais facilmente na ovelha perdida do que nos noventa e nove fariseus cumpridores de ordens que se julgam justos e piedosos ou gostamos muito mais de nos identificar com o filho que sai de casa com a herança de seu pai e a dissipa numa vida dissoluta que no filho que se recusa a entrar na festa preparada para celebrar o reencontro do seu irmão.

Contudo, somos filho mais novo e filho mais velho, somos pecadores humilhados e fragilizados pela fadiga dos nossos pecados, mas também muitas vezes pecadores cheios da presunção e do orgulho que nos impedem de reconhecer as nossas fragilidades. Porém, nenhum destes é um caminho sem saída e como Paulo podemos cantar o hino da gratidão, louvando o Pai que em Jesus Cristo nos faz dignos do Seu amor e da Sua bondade e nos convida a ser servidores da alegria da vida reencontrada, proclamando com a vida que o caminho da conversão inaugura um tempo novo e rasga caminhos de esperanças quando tudo parece perdido.

Perde-se uma ovelha, perde-se uma moeda, perde-se um filho. Mas Deus não perde a esperança, não esquece a Sua Aliança, não perde o amor que tem por nós e derrama sobre a nossa vida o Seu amor feito perdão, ternura, bondade e misericórdia. Por isso, queremos, em cada dia, rezar com as palavras do salmista: «criai em mim, ó Deus, um coração puro e fazei nascer dentro de mim um espírito firme».

 

Homiliário patrístico

Das Homilias de Santo Astério de Amaseia,

bispo (Sec. V)

Imitemos o exemplo de Cristo, o Bom Pastor. Consideremos os Evangelhos e, vendo neles, como num espelho, aquele exemplo de diligência e bondade, procuremos aprender estas virtudes. Aí vemos descrita, na linguagem misteriosa das parábolas, a figura de um pastor de cem ovelhas, o qual, ao verificar que uma delas se tresmalhara e andava errante, não permaneceu junto das que pastavam tranquilamente: pôs-se a caminho à procura da ovelha perdida, atravessando vales e florestas, transpondo montanhas altas e escarpadas e percorrendo desertos, num esforço incansável até a encontrar.

Ao encontrá-la, não lhe bateu nem a impeliu violentamente, mas, pondo-a aos ombros e tratando-a com doçura, reconduziu-a ao rebanho. E foi maior a sua alegria por uma só ovelha reencontrada do que pela multidão das restantes. Consideremos a realidade oculta na obscuridade da parábola. Nem esta ovelha nem este pastor são propriamente uma ovelha e um pastor; são figuras de uma realidade mais profunda.

Há nestes exemplos um ensinamento sagrado: nunca devemos julgar os homens perdidos sem remédio, nem deixar de ajudar com toda a diligência os que se encontram em perigo. Pelo contrário: reconduzamos ao bom caminho os que se extraviaram e afastaram da verdadeira vida, e alegremo-nos com o seu regresso à comunhão daqueles que vivem recta e piedosamente.

 

Indicações litúrgico-pastorais

  1. A Liturgia da Palavra deste Domingo coloca a misericórdia de Deus no centro da nossa reflexão. Como nos recorda o Papa Francisco tantas vezes: «Deus nunca Se cansa de nos perdoar», contudo «nós às vezes cansamo-nos de pedir perdão». Por isso, «não nos cansemos jamais, nunca nos cansemos! Ele é o Pai amoroso que sempre perdoa, cujo coração é cheio de misericórdia por todos nós». Deste modo, na celebração deste Domingo pode solenizar-se o acto penitencial cantando o Kyrie com os tropos ou com a bênção e aspersão da água (ver na sugestão de cânticos).

 

  1. Para os leitores: a primeira leitura apresenta o diálogo entre o Senhor e Moisés, entre a indignação de Deus e o pedido de clemência de Moisés. A proclamação desta leitura deve reflectir a tensão presente neste diálogo, tendo em atenção as longas frases de discurso directo. Na segunda leitura, S. Paulo escrevendo a Timóteo dá graças pela misericórdia infinita de Deus e apresenta assim uma oração de louvor pela condescendência de Deus que o escolheu e chamou. Esta leitura deve ser lido em modo orante, com os sentimentos de louvor e de júbilo, tendo em atenção a fórmula doxológica com que termina.

 

Sugestões de cânticos

Entrada: Dai a paz, Senhor – F. Valente (BML 127); Acto Penitencial:  Senhor, tende piedade de nós – F. Santos (BML 35); Aspersão: Derramarei sobre vós a água pura – M. Simões (NRMS 58) Salmo Responsorial: Vou partir e vou ter com meu pai (Sl 50) – M. Luís (SRML, p. 318-319); Aclamação ao Evangelho: Aleluia. Em Cristo, Deus reconcilia o mundo consigo – M. Joncas (Guião 2017-XLIII ENPL); Ofertório:  É preciso que tu, meu filho – F. Santos (BML 65) Comunhão:   Como é admirável – F. Santos (NCT 257); Final: Vou partir, vou ter com meu Pai – Nuno Costa (Libellus 1, p. 35).