
No México completaram-se, há poucas semanas, cem dias sobre a tomada de posse do Lopez Obrador como chefe de estado, na sequência da sua estrondosa vitória nas eleições presidenciais daquele país Estrondosa, não só pelos números de que se revestiu, mas também por ter sido alcançada à terceira tentativa, o que diz bem do seu espírito combativo e resiliente.
Por António José da Silva
É habitual os comentadores políticos estarem atentos aos primeiros cem dias de governação de qualquer político investido em funções de liderança, sobretudo quando se trata de chefes de governo ou de estado. O novo presidente mexicano mão escapou portanto a este escrutínio e a conclusão que resulta desse exame é a de que Obrador passou com distinção.Com a sua enorme superfície, com uma população de mais de cem milhões de habitantes e, sobretudo, com a sua capacidade de produção petrolífera, o México tem muitas das condições necessárias para ser uma das grandes economias do continente americano. No entanto, essas condições não têm chegado para que esta riqueza potencial tenha conseguido tirar da pobreza uma parcela significativa da sua população.
Para já, o novo presidente só tomou medidas garantidamente populares. Decidiu, por exemplo, cortar nos gastos inúteis ou supérfluos do Estado, a começar pela utilização oficial de carros de luxo e de edifícios públicos desnecessários, e cuja construção e manutenção ficam excessivamente caras ao erário público. São medidas simples e aparentemente fáceis de tomar, mas têm sempre um impacto garantido junto dos estratos mais pobres da população, como foi o caso. Só que as grandes decisões, essas, estão ainda por tomar e só elas poderão provar se Obrador é um político verdadeiramente corajoso, capaz de enfrentar, por exemplo, a política migratória de Donald Trump.
Ora, pelo menos numa primeira análise, Obrador acabou por ceder às condições impostas pelo governo de Washington nesta matéria, de tal modo que os seus opositores o acusam ter cedido vergonhosamente às exigências de presidente americano. São exigências que visam impedir, em muitos casos de forma dramática e desumana como tivemos oportunidade de testemunhar pela televisão, a passagem pelo seu território das centenas ou milhares de candidatos à emigração para os Estados Unidos, É certo que mesmo os adversários de Obrador foram obrigados a reconhecer que, em contrapartida, Trump pagou essas cedências com uma política fiscal mais favorável às importações de produtos mexicanos. Mas, de qualquer modo, a popularidade do novo presidente do México já foi irremediavelmente abalada por algumas imagens dramáticas, cuja origem está precisamente na política migratória de Trump.