Depois de S. Domingos de Silos e da Cartuxa de Miraflores, em Castela, chegou a hora de o convidar, amigo leitor, a vir conhecer os mosteiros de Poblet e Ballbona, na Catalunha”.
Por João Alves Dias
A Ordem dos “Monges Brancos” foi fundada por Roberto de Molesme quando, em 1098, se deslocou a Cister para restaurar a austeridade e a simplicidade da regra de S. Bento. Após São Alberico, Estêvão Harding foi o terceiro abade de Cister, seu grande impulsionador e primeiro legislador. Porém a grande expansão da Ordem deve-se a S. Bernardo de Claraval, o “doutor melífluo”, o “homem do século XII”. Tendo chegado a Cister em 1112, fundou, em 1115, os mosteiros de Claraval e Morimond que tiveram um papel primacial na presença da Ordem na Península Ibérica. Enquanto o último foi responsável pelo movimento cisterciense em Navarra, Castela e Aragão, já o primeiro está na origem dos mosteiros de Leão, Galiza e Portugal (S. João de Tarouca, por volta de 1140 e Alcobaça, 1153).
Poblet é um dos maiores mosteiros cistercienses do Mundo e o maior da Europa habitado, atualmente com 25 monges.
Quando, em 1153, os monges começaram a construir as primeiras dependências, logo consagraram a igreja a Santa Maria. O seu património foi crescendo até chegar a ser o mais extenso da Catalunha. No século XIV, passou a ser o panteão da coroa aragonesa. Em 1835, com a “Lei da desamortização”, tornou-se propriedade do Estado. O recinto monacal, abandonado, foi saqueado e incendiado. Os túmulos dos reis que estavam na igreja foram profanados, em busca de imaginários tesouros. Os restos mortais foram recolhidos pelo pároco de Espluga de Francoli e guardados na igreja paroquial durante sete anos até serem trasladados para a catedral de Tarragona. Em 1930, foi criada uma comissão para a conservação e restauração do mosteiro e, em 1940, alguns monges, vindos de Itália, restabeleceram a comunidade monástica que voltou a dar sentido a estas pedras quase milenárias. Em 1952, os féretros reais voltaram a ser depositados no mosteiro e seus túmulos restaurados. Apesar de todos os atentados por que passou, o mosteiro manteve a sua estrutura medieval e, por, isso (e não só…) foi declarado Património da Humanidade em 1991.
O mosteiro impressiona pela grandiosidade do seu edifício e pela riqueza artística do seu património. Sendo impossível descrevê-lo, realço a elegância do claustro gótico, o templete românico onde murmura uma fonte, o dormitório com 87 metros de comprimento e 10 de largura, e, principalmente, as quatro torres/zimbórios que sintetizam os estilos fundamentais do mosteiro: românico, gótico, renascença e barroco. O interior da igreja, com os túmulos reais, de alabastro, e o retábulo maior – a primeira grande obra renascentista da Catalunha – deixa-nos sem palavras.
Poblet, mais que um espaço, é um convite à contemplação.