Tem sido tradicional que o encontro de final do ano pastoral dos párocos e sacerdotes das duas vigararias da cidade do Porto se realize através de uma visita de estudo a localidades com interesse eclesial e cultural da diocese do Porto ou de concelhos próximos.
Neste mês de junho de 2019 foi escolhido pelos vigários a cidade de Ovar, em conjugação com a vila de Grijó. Esta associação foi sugerida pelo facto de ambas as localidades estarem ligadas a uma figura da nossa literatura, o romancista e poeta portuense Júlio Dinis (1839-1871), já que, com motivo da “cura de ares” para a sua tuberculose teve tempos de repouso em casa de familiares em Ovar e também em Grijó, locais de características rurais tidas como propícias pera a enfermidade que o conduziu à morte aos 31 anos, depois de ter deixado uma obra reconhecida como representativa da transição da estética romântica para os caminhos do realismo na literatura portuguesa, especialmente no romance (“A Morgadinha dos Canaviais”, “As Pupilas do Senhor Reitor”, “Os Fidalgos da Casa Mourisca”, “Uma família Inglesa”), mas também na poesia. A visita à casa que ocupou em Ovar revelou um pouco das suas condições de vida e de trabalho.
Mas a centralidade da visita esteve em dois polos: a igreja de S. Cristóvão de Ovar, visita guiada sob a orientação do pároco, P. Manuel Pires Bastos, e o Mosteiro de São Salvador de Grijó, visita conduzida pelo pároco, Cón. António Coelho.
A igreja de S. Cristóvão de Ovar, cuja construção se prolongou ao longo do século XVII para cá, apresenta mais riqueza ornamental que arquitectónica, com a talha barroca que adorna altar mor e os altares do transepto, cuja rica figuração escultórica é bem elucidativa dor processos de evangelização pela arte, transformada em modelo de interpretação visual dos mistérios cristãos e dos acontecimentos bíblicos, bem como imagens representativas, de que sobressai a do padroeiro, escultura gótica do séc. XV. Outro conjunto de monumentos da cidade são as Capelas dos Passos, representado várias cenas da Paixão (queda de Jesus, encontro com Maria, a verónica, as filhas de Jerusalém e o calvário) através de esculturas tão populares como significativas. Outras cinco capelas traduzem também a vivência da fé por parte da população local.
Outro motivo de interesse, proporcionado por uma técnica da Câmara Municipal, foi o notável conjunto de azulejos de diversas épocas e estilos, que adornam as fachadas de prédios de várias ruas centrais da cidade. Uma visita ao Palácio da Justiça permitiu contactar com as pinturas cerâmicas de Jorge Barradas (1965) e o fresco de Miguel Camarinha (1966) na sala de audiências.
Foi possível visitar o monumento de raiz judaica, na freguesia de S. Vicente de Pereira, cuja descoberta o P. Pires Bastos divulgou e cujo estudo promoveu, e que a Câmara, que adquiriu o espaço degradado em que se encontra, prepara para uma adequada valorização histórico cultural.
Em Grijó, os participantes puderam contactar com o atual edifício, que se seguiu a anteriores com origem mais antiga no séc. X, construído entre os séculos XVI e XVIIII, de equilibrada fachada grandiosa, dedicado a S. Salvador, com a bela talha dourada do altar mor, o seu claustro onde sobressaem os painéis de azulejos representando os evangelistas e doutores da Igreja, e o túmulo medieval de D. Rodrigo Sanches, filho ilegítimo de D. Sancho I, uma preciosidade escultórica recentemente revelada e valorizada pela sua exposição. Realce também para os vitrais de Júlio Resende, testemunhando o sentido da arte sacra deste artista dos nossos dias.
Houve ainda tempo para uma visita ao novo Centro Social Paroquial, em fase de acabamento que a paróquia preparou para brevemente servir a sua finalidade solidária.
É este um processo de valorizar a formação dos sacerdotes e de dar sentido ao património da Igreja e da sociedade.
(C. F.)