A Diocese do Porto vai viver mais um dia grande no segundo Domingo de Julho com a ordenação de presbíteros e diáconos.
Por Secretariado Diocesano da Liturgia
A celebração do Sacramento da Ordem é das mais belas liturgias da Igreja. Estamos habituados a olhar para ela numa perspetiva «clerical» como sendo um acontecimento que diz respeito quase só à hierarquia da Igreja: é a realização máxima do Bispo que assim prolonga a sucessão apostólica no ministério a uma nova geração; é, para os diáconos, a entrada no «clero» – outrora esse ingresso fazia-se mediante o rito da «tonsura» – passando a integrar a hierarquia da Igreja; é, para os presbíteros, o sacramento pelo qual são agregados ao presbitério de uma Igreja particular e configurados sacramentalmente a Cristo, Mestre, Sacerdote e Pastor para o exercício do ministério sacerdotal in persona Christi Capitis.
Neste modo de ver, porém, não se tem em conta a melhor teologia do II Concílio do Vaticano que, na Constituição dogmática Lumen Gentium (n. 10), para além de afirmar a distinção essencial entre o sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico, sublinha que ambos se ordenam mutuamente um ao outro. Por outras palavras, a Liturgia da Ordenação configura-se como uma festa da Igreja. Muito bem o entendem os fiéis ao apinharem a Catedral nestes dias numa participação viva e intensa, que se prolonga depois, nas comunidades, nas «Missas Novas» nos neo-presbíteros.
É interessante anotar como esta dimensão é destacada no Pontifical, nome dado ao livro litúrgico usado nas celebrações presididas pelos Bispos. No nº 9 da Ordenação do Bispo dos Presbíteros e dos Diáconos sublinha-se que nesta Liturgia «se unem a principal manifestação da Igreja e a colação das sagradas Ordens com o Sacrifício eucarístico, fonte e vértice de toda a vida cristã». Recordamos, a propósito, que, segundo SC 41, aqui citada «a principal manifestação da Igreja faz-se numa participação perfeita e ativa de todo o Povo santo de Deus na mesma celebração litúrgica, especialmente na mesma Eucaristia, numa única oração, ao redor do único altar a que preside o Bispo rodeado pelo presbitério e pelos ministros». Também por isso se recomenda expressamente que se realize a Ordenação com o maior concurso possível de fiéis, num domingo ou dia festivo, a não ser que razões pastorais aconselhem outro dia. Por motivos óbvios, apenas se excluem como data das Ordenações o Tríduo Pascal, a Quarta-feira de Cinzas, toda a Semana Santa e a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos.
O Pontifical supõe a participação ativa da assembleia:
– Na apresentação dos candidatos, «a Igreja local pede ao Bispo que ordene os candidatos»; o seu testemunho prévio é expressamente mencionado; e o povo aclama – «Graças a Deus!» – quando a eleição é confirmada pelo Bispo;
– Após a homilia, os ordinandos devem manifestar diante do povo o propósito que os anima porque estão para ser consagrados «ao serviço da Igreja»;
– Na súplica litânica, a Igreja Peregrina na terra une-se à Igreja celeste dos bem-aventurados numa prece unânime;
– Durante a imposição das mãos e a Oração de ordenação, os fiéis escutam, confirmam e concluem com a aclamação;
– Nos ritos explicativos, nomeadamente da Ordenação presbiteral: as mãos dos neo-presbíteros são ungidas com o Santo Crisma para santificarem o povo cristão; depois, alguns fiéis trazem ao bispo a patena com pão e o cálice com vinho e água, os quais são, a seguir, entregues ao padre acabado de ordenar como sendo «a oferenda do povo santo».
Não são meras alusões de circunstância. À sua expressão litúrgica corresponde uma efetiva relevância eclesiológica. Os ministros ordenados não são meros «delegados» do povo porque a Liturgia da Igreja confessa e celebra a origem divina do ministério sagrado. Mas também é verdade que as ordenações «absolutas» são inválidas: não há ministros sem Igreja.