
Será que São Pedro e São Paulo não teriam «direito» a uma festa litúrgica, para cada um deles, em vez da tradicional celebração conjunta?
A pergunta tem razão de ser, porquanto outros santos possuem um dia «só para eles» e, certamente, não contribuíram tanto para a fé como aqueles dois Apóstolos. Mas a Igreja que os uniu numa única Solenidade sabe bem a razão porque o faz.
É que as suas pessoas são uma espécie de metáfora da Igreja que faz da diversidade uma tensão para a mesma meta. Não tanto a geográfica, Roma. Mas a da identidade e da missão. Vejamos.
Trata-se de duas vidas muito diversas. Pedro, o pescador remediado; Paulo, o «Procurador Geral da República» bem-sucedido. Pedro, com a instrução básica; Paulo com doutoramento na «business school of» Gamaliel. Pedro, judeu proscrito, como o seu povo, falando o aramaico e pouco mais; Paulo, cidadão romano e do mundo, pois tinha a seu favor o domínio do «inglês» do tempo, a língua grega. Pedro, dedicado ao reduzido grupo dos hebreus; Paulo, enviado ao vastíssimo mundo pagão. E muito mais.
Não obstante, o Espírito condu-los não só para a mesma “Roma eterna”, mas também para a representação da dupla face da mesma Igreja: a institucional e a carismática. Pedro é a solidez, a pedra angular para a edificação da «Ecclesia», a certeza de que pode haver muitas falhas e defeções, mas, no campo da fé, Roma nunca falhou e nunca falhará. Paulo é o dinamismo missionário, a frescura contagiante da verdade do Evangelho, o coração saltitante do aventureiro e do idealista para quem «parar é morrer», a ousadia da novidade daquele “pai de família que tira sempre do seu tesouro coisas novas e coisas velhas” (Mt 13, 52).
Pedro, sem Paulo, seria o Presidente de uma qualquer General Motors, por mais respeitosa que fosse; Paulo, sem Pedro, não passaria do prosélito que mete sempre do seu, mesmo que jure estar a pregar a verdade objetiva. O Príncipe dos Apóstolos, sem o Apóstolo dos Gentios, representaria a «opressão» dos organismos rígidos; o segundo, sem o primeiro, arvorar-se-ia em espalhador de ideologias, porventura atrativas, mas sempre votadas ao fracasso.
Eles contruíram Igreja porque, a partir das suas diferenças, souberam convergir. Mas será que também construirão Igreja os profissionais da divergência?
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