“A violência é aqui colocada seguindo a intensidade dramática e aproximação à banalidade do quotidiano que muitos filmes portugueses pós-anos 90 prenunciam.
Por Joaquim Armindo
Houve uma necessidade, também sentida em Canijo, em revelar e expor realidades escondidas, criticando a submissão patriarcal que molda as práticas sociais no Portugal democrático. A forma como o fez e o conteúdo que expôs relacionam-no com uma geração que se abre ao mundo, mesmo que fale sobre tudo da sociedade portuguesa” – pode ler-se no livro que a Imprensa de História Contemporânea acaba de editar e cujo lançamento foi efetuado a semana passada. O livro da autoria do professor Doutor Daniel Ribas, professor da Escola das Artes, da Universidade Católica Portuguesa – Porto, procura aferir do imaginário cultural do realizador João Canijo e a sua identidade nacional com Portugal. Com o título “Uma dramaturgia de violência: os filmes de João Canijo”, o livro, constitui a tese de doutoramento de Daniel Ribas de Almeida, que assina como Daniel Ribas.
De acordo com o autor, o realizador coloca-se “numa tradição do cinema português”, onde opera uma rutura, dando conta de “uma identidade marcada por uma mentalidade que transita dos momentos históricos” sobretudo do consulado de Salazar, e que resulta de “uma não-inscrição”, uma não-afirmação do individualismo. Essa “não-inscrição”, onde se verifica “uma crítica explicita e veemente a esse modo de viver, reflete-se numa não-salvação das personagens, trucidadas pelos poderes patriarcais”.
E continua Daniel, escrevendo que Canijo “procura ultrapassar essa mentalidade desvendando um mundo mascarado por uma identidade cultural …no interior dos microcosmos portugueses: a família em lugares periféricos. Essa denúncia de um mundo idealizado e instrumentalizado implica um retrato de família. Como qualquer retrato, os filmes trabalham num misto de ocultação e desvendamento, procurando ver para além da superfície e revelando que a identidade nacional é de facto marcada pela violência interna das suas relações sociais, não permitindo um debate público como ocorre nas democracias maduras.”
Um livro a ler e refletir, ou não seja o Daniel, meu filho!