Ciências naturais e fé cristã (27) Ciências naturais e a evidência de Deus (II)

Foto: Rui Saraiva

Começo o presente texto por admitir que me sinto profundamente incerto do que irei referir.

Por Alexandre Freire Duarte

Creio ter lido algo sobre isso há uma série de anos, mas, por mais que tenha tentado voltar a recordar-me de onde o poderei ter feito, não o logrei. Assim sendo, acabarei por avançar para uma exposição que, embora tenha uma pré-história exterior à minha reflexão, baseia-se, quase que totalmente, no que eu, depois dessa pré-história e com todas as deficiências daí derivadas, reflecti.

Ora bem, recordo-me de ter estudado que, na primeira metade do séc. XX, Werner Heisenberg postulou, naquilo que passará a ser denominado de “princípio da incerteza”, que não se pode saber, simultaneamente e com rigor, a posição e a velocidade de uma dada partícula sub-atómica. E isto porque, o próprio acto de observação de um daqueles dados – e, porventura, o de subsequente medição – afecta a característica do outro e vice-versa. Ou seja: há uma verdadeira incerteza sempre que se pretende descrever o estado de uma daquelas partículas.

Repare-se que, assim sendo – e não penso, por um momento que seja, que Heisenberg tenha pensado no que irei afirmar daqui em diante –, o mundo sub-atómico ou quântico parece ser uma nuvem rarefeita que só pode ser conhecida – e apenas de modo parcial – se com nela intervirmos. Mais: e que, em consequência do que acabei de mencionar e se estou a reflectir correctamente, a forma como tal interferência ocorre no que é percepcionado, configura, justamente e de algum modo, isto mesmo que é percepcionado. Parafraseando, numa certa inversão, um princípio clássico da vida espiritual – e que a escolástica plasmou na afirmação de que “o que é recebido é recebido em função daquele que o recebe” –, talvez se possa mesmo dizer que, a nível quântico, o que é percepcionado existe tal como é percepcionado em função do modo como é percepcionado.

Mas talvez se possa ir mais longe. Também neste momento – e embora me vá basear na leitura de um texto, do nobel da física Eugene Paul Wigner, que estudei quando, há dois anos, me preparava para um debate sobre se a “‘ideia de Deus’ é um produto do cérebro” –, a minha incerteza é veraz, mas creio que vale a pena aventurar-me. Segundo aquele, não é apenas o que é percepcionado que existe tal como é quando é percepcionado: as partículas sub-atómicas só existem verdadeiramente quando são observadas, donde a (observação de uma) inteligência consciente dá, pelo menos, um novo fundamento radical à realidade.

E, por fim, um último passo formulado por um teólogo e apenas em pergunta: não será que, sendo as coisas assim, a totalidade do existente só existe porque um Observador exterior à mesma, embora interventivo nela (tal como já vimos noutros textos desta rubrica), existe?