Golfo Pérsico: receios justificados

Há poucas semanas, a Comunicação Social de quase todo o mundo deu o merecido relevo a um incidente que envolveu dois petroleiros que navegavam no estreito de Ormuz, uma passagem marítima de enorme importância estratégica para o comércio em geral, e para o transporte e comércio do petróleo em particular.

Por António José da Silva

Tratou-se de um ataque cuja autoria, pelo menos até hoje, não chegou a ser reivindicada por qualquer estado ou movimento político da região, mas que serviu de pretexto para o agravamento das relações das entre o Irão e os Estados Unidos. Estas relações, historicamente difíceis, tinham-se tornado ainda mais tensas desde o momento em que que o governo americano denunciou o acordo nuclear com o Irão, um acordo que tinha sido tão importante como difícil de alcançar.

Compreende-se pois que, neste cenário de ameaças e desconfianças entre os dois países, Washington tenha acusado de imediato os responsáveis políticos de Teerão de estar por detrás daquele ataque, uma acusação que estes têm negado reiteradamente. Foi pois com uma surpresa ainda maior que o mundo tomou conhecimento, há poucos dias, de mais um incidente grave naquela área do mundo, mais concretamente no mar de Omã. Também neste caso, não se fizeram esperar as acusações ocidentais de que o governo de Teerão seria responsável por este novo ataque, sendo que, desta vez, o Reino Unido partilhou inteiramente, e em termos muito claros, as acusações de Washington.

Já a Rússia, que ao longo dos últimos anos nunca comungou do discurso norte-americano contra o Irão, bem pelo contrário, veio lembrar a necessidade de a comunidade internacional não alinhar em acusações fáceis e perigosas, sob pena de estar a contribuir para o aumento da tensão política e militar numa das áreas potencialmente mais ameaçadoras pera a paz no mundo.

Não foi sem motivo que o próprio secretário geral da ONU, o português António Guterres, se sentiu obrigado a chamar a atenção para os perigos que adviriam do agravamento da situação política e ou militar na região do Golfo. Para já, a única consequência destes ataques aos quatro petroleiros que navegavam no estreito de Ormuz e no mar de Omã, foi a subida do preço do petróleo, embora uma subida que, por enquanto, não representa uma ameaça demasiado perigosa para a economia mundial.

No entanto, se os incidentes se repetirem, transformando aquelas águas num mar carregado de perigos para a navegação, bem se poderá dizer que, a curto ou médio prazo, nos arriscaremos a sofrer as consequências de uma nova guerra do Golfo.