
Durante muito tempo, grandes pensadores entregaram-se à tentativa de demonstrarem a realidade de Deus.
Por Alexandre Freire Duarte
Com o passar do tempo, passou-se a ser mais comedido em tal ambição, preferindo-se falar em argumentos que convençam dessa tal realidade. Estes podem ser sintetizados em três grandes grupos. A saber: os que se baseiam na causalidade, que dizem que, para algo como o nosso Universo possa existir, é preciso que haja uma Causa Primeira que é a única razão de Si mesma; os associados ao propósito, os quais sustentam que a existência de algo muito complexo formado de diferentes partes, intimamente interconectadas entre si, só é possível havendo uma Inteligência que a conceba; e, por fim, os conectados com a necessidade, que referem que se é possível pensar-se o Ser mais absolutamente perfeito, este Ser necessita de possuir a qualidade de ser real, caso contrário não seria o Ser mais perfeito.
Creio que, nos nossos dias, os cristãos em geral e os teólogos em particular, já nem temos a ousadia de querer saber como apontar para a realidade de Deus. Na verdade, contentamo-nos com o falar de Deus, de um modo tradicional e acomodado, apenas a quem n’Ele já acredita – não nos preocupando em sustentar tal realidade –, ou, então a falarmos sobre Aquele, de um modo vaporoso e baseado em traços emocionais, àqueles que não acreditam n’Ele – não nos atrevendo a referir processos de chegar à evidência de Deus.
Penso que isto é muito triste e que a Igreja, como um todo, ainda se lamentará por, durante tanto tempo – inclusive este em que vivemos –, ter descurado o que de positivo a antiga boa apologética possuía. E isto, em detrimento de errados intentos de fazer os demais “sentirem-se bem”, quando, no fundo, o Cristianismo existe, não para promover uma qualquer sensação de bem-estar psicológico, mas para as pessoas a questionarem, e descobrirem – quiçá contra tal estado psicológico –, o que é genuinamente importante – o amor sempre maior e melhor que dimana do Deus-Amor –, e viverem em exigente fidelidade a isso.
Já tive o cuidado de referir, precedentemente, que as ciências naturais, mantendo-se no horizonte das suas competências próprias, não podem provar ou negar a realidade de Deus. Mas será que um teólogo – que também deve apreciar o que tais ciências referem no seu discorrer sobre Deus e o que com Ele está em relação – não poderá olhar para os dados das ciências naturais e, baseando-se neles, tentar procurar possíveis caminhos pelos quais se possa avançar, com relativa segurança, até à convicção racional de que tais dados apontam para a realidade de Deus?
Estou convicto de que sim: que um teólogo pode, pelo menos, tentar fazê-lo, tal como me disponho a fazer nos meus próximos dois textos desta rubrica.