Por volta dos dois anos, (estádio pré-operatório), a criança começa a reproduzir gestos e sons. Imita o adulto mas na sua ausência. É uma imitação em diferido.
Por João Alves Dias
Surge o «pensamento simbólico» que se expressa através do desenho. Recordo o que A. Saint-Exupéry conta em “O Principezinho”. Diz ele que, depois de fazer um desenho, mostrou-o “a pessoas grandes e perguntei-lhe se o meu desenho lhes metia medo” E qual não foi a sua deceção… “Elas responderam –me: – Porque é que um chapéu haveria de meter medo? O meu desenho não representava um chapéu. Representava uma jiboia a digerir um elefante.”
Todos nós já vimos crianças fazer uns riscos e dizer: “Esta é a mãe, esta é a avó”. Também os “jogos do faz-de-conta” são imitações em diferido. A criança reproduz um gesto que viu a mãe fazer e diz: – “Sou a mãe”. Ainda há dias, a Clara sentou-se na soleira da porta onde costuma estar uma sua vizinha e disse toda empertigada: –“Eu sou a Rosa!”
Além disso, começa a atribuir valor simbólico aos sons que foi interiorizando. Quando diz «papá», já sabe a quem se refere. Para além do som, existe significação. Isto é linguagem.
Este é o tempo de rezar com ela algumas orações como a Ave-Maria, o Glória, ao Anjo da Guarda; de lhe explicar as festas religiosas como o Natal, a Páscoa, e os símbolos cristãos da casa. Mas devemos ter cuidado com as palavras para não suceder o que me aconteceu quando disse ao Francisco, então com 4 anos, que o Tio Zé tinha ido para o Céu: – “Foi de avião ou de foguetão?”
Faz-lhe muito bem ir visitar uma igreja vazia. Ao ver a postura do adulto, vai introjetando a ideia do Sagrado. Os pais/avós aproveitem os dias especiais para levá-la à Missa. Pouco a pouco, vai-se habituando a ver, no visível, o invisível e, através dos sinais, chega ao Mistério. Esta é a “Pedagogia da Fé”.
Pelos 6 anos, surge o estádio das “operações concretas”. O pensamento torna-se reversível mas permanece sob o domínio do real e do concreto. Lembro a perturbação daquela criança a quem, na catequese, disseram que Jesus nos dá a Vida Eterna. –“E se eu não gostar da vida eterna?” Jesus oferece-nos o Paraíso (cf. Lc 23,43). É mais concreto…
Por volta dos 11 anos, atinge o estádio das “operações formais”. Só então entra nos domínios do abstrato e do “possível”. Adquire a noção de tempo e espaço abstratos.
Não admira pois que a Clara me tenha perguntado se eu conhecera os pais de Jesus. O pai dela, com a sua idade, sempre me perguntava se eu tinha conhecido os Romanos.
Segundo Piaget, os estádios podem ser antecipados mas nunca suprimidos. Os pais e os catequistas não os podem ignorar.
Termino com a interrogação que, em Fátima, nos deixou o arcebispo de Manila: “Será que os pais (e os avós) assumem com seriedade a responsabilidade de educar os seus filhos na Fé?” (JN, 14/5/2019)