Ciências naturais e fé cristã (25) Origem da Criação e o começo do Universo (III)

Foto: Rui Saraiva

Para findar esta temática, sobre a relação entre a origem da Criação e o começo do Universo, resta-me agora – e depois de ter falado, quer da não coincidência das noções de “começo” e “origem”, quer da compatibilidade entre a visão científica e a leitura cristã acerca do surgir do existente – avançar aqui para um conjunto de ideias finais.

Por Alexandre Freire Duarte

A primeira delas é que, se hoje há pessoas que se sentem incomodadas com a antes mencionada visão científica, elas geralmente estão do lado, não de um Cristianismo que pode estar tranquilo com qualquer explicação científica natural que se revele verdadeira, mas, sim, dos cientistas naturais.

Sejam os que se baseiam em motivos meramente científicos, seja aqueles que, enveredando por pressupostos materialistas indemonstráveis pelas suas ciências, estimam que a teoria do “Big Bang” não é senão um estratagema para impor à ciência uma leitura da realidade decalcada da, ou compaginável com a, leitura judaico-cristã.

A segunda tem a ver com a natureza dos textos bíblicos que falam da criação da Criação. Estes não são tratados científicos de cosmologia, mas interpretações sagradas crentes – baseadas na fé num Deus sábio, libertador e abridor do presente a uma esperança sempre maior que se saciará apenas n’Ele – de como é que, olhando os seus autores humanos para o presente em que viviam, puderam ser as primeiras páginas de uma história de amor. Aquela história de amor (e de desamor, mas apenas do lado humano) entre, por um lado, Deus, e, por outro lado, uma humanidade entendida como cuidadora das demais criaturas.

A terceira e última ideia, mas talvez a mais importante de todas, reporta-se ao papel que o Senhor Jesus tem na origem da Criação. Jesus é a Palavra de Deus – tão Deus como o Pai e o Espírito Santo – feita ser humano (sem deixar de ser Deus), sendo a sua Pessoa a mesmíssima Pessoa divina de Deus Filho. Pela Sua morte-ressurreição, o que em Jesus não era estritamente divino (a Sua humanidade, inclusive com as marcas da paixão) é assumido plenamente na vida divina, num evento com repercussões cósmicas que se estendem para “trás” e “para a frente” de tal evento.

Assim sendo – havendo em Deus, que cria eternamente uma Criação que se manifesta temporalmente, uma realidade criada (aquela humanidade de Jesus) glorificada – Este torna-se, para todos os efeitos, o Senhor de toda a Criação, bem como, quer o instrumento originário dela, quer o conferidor de consistência à mesma, quer (como já sabemos) a sua meta.

Eis porque, independentemente de como foi o começo do Universo (que, porém, o crente deve querer conhecer, também como meio de apreciar melhor o Criador), a meta da Criação é como que a matriz da origem desta e, assim, a própria moldura de tal começo.