
Quando a Comunicação Social fala do Médio Oriente, é para evocar, na maioria dos casos, a região onde são particularmente visíveis e perigosas as tensões entre judeus e árabes, como se aquela área geográfica do mundo fosse partilhada somente por estes dois povos, o que não é verdade.
Por António José da Silva
Aliás, o próprio conceito de Médio Oriente não é absolutamente unívoco na linguagem da comunicação, sendo substituído em alguns países pelo termo Próximo Oriente, tudo dependendo de quem se refere àquela região. Os americanos, por exemplo, preferem a expressão Próximo Oriente para se referirem aos países que nós situamos na região a que chamamos Médio Oriente.
Vem isto a propósito das notícias, que nos últimos dias deram algum relevo a mais uma cise com epicentro naquela área do mundo, Pelo que foi relatado, essa crise não envolveu, para já, israelitas e árabes, não se sabendo ainda quem é responsável pelo incidente, que teve origem num ataque a quatro petroleiros que sulcavam as águas do estreito de Ormuz.
As insinuações são várias, mas não são claras, até porque nenhum país pretende assumir a responsabilidade por uma crise que, a prolongar-se, poderá ter implicações demasiado graves para o todo o mundo, ou não passasse por aquele pedaço de mar, que liga o Golfo Pérsico ao Golfo de Omã, uma enorme percentagem dos navios que alimentam o comércio internacional, a começar pelo transporte do petróleo.
É sobretudo por este motivo que aquele estreito assume uma importância estratégica relevante. Antes de mais, para o Irão que detém a sua soberania, e depois para todos os países que não podem dispensar a sua utilização, a começar pelos Estados Unidos, mas não só. Não admira pois que as primeiras reacções ao incidente que deu origem a esta crise tenham vindo precisamente de Washington e de Teerão, dois países cujas relações são hoje ainda mais tensas do que vinham sendo ao longo dos últimos anos, depois do abandono, pelos norte-amaricanos, do acordo nuclear com os iranianos.
Para nós, portugueses, que acompanhamos, com maior ou menor interesse, a actualidade internacional, a notícia deste último incidente, cuja evolução é ainda problemática, trouxe-nos â memória um nome que nos fez recuar aos tempos da nossa saga marítima, e particularmente aos tempos dos nossos encontros com a Ásia.
Falamos de Ormuz, una cidade que dá nome àquele famoso estreito, e que foi conquistada em 1507 por um herói, mesmo que polémico, da História de Portugal. Um herói que se chamou Afonso de Albuquerque.