Mensagem (34): Não aos remendos

Logo nas primeiras aulas de condução, o meu instrutor não se poupava ao esforço de me lembrar que não devia fixar-me no capot do automóvel ou na sua frente, mas olhar bem a estrada, para longe. Até onde a visão fosse capaz de atingir. E a experiência ensina-me que, quanto maior for a velocidade, maior tem de ser a lonjura para onde se olha.

Na Igreja tem de acontecer o mesmo. Neste tempo de penúria, quando a manta começa a ficar curta para tapar os pés, é forte a tentação de usar todos os tecidos possíveis e imaginários para cobrir o que começa a ficar a descoberto.

Nada de mais perigoso. Uma Igreja que não olhasse para as lonjuras do infinito nem seria fiel a Deus nem aos homens, pois recebeu a missão de «ir por todo o mundo e pregar o Evangelho a todas as criaturas». A Igreja estaria doente –e gravemente doente – se concentrasse em si o resto das energias que ainda lhe sobram e desprezasse a sua dimensão missionária constitutiva. Mas goza de perfeita saúde sempre que sabe privar-se de alguns meios para os colocar ao serviço de quem mais precisa. Até porque o excesso de alimento favorece a gordura e esta a doença…

É por isto que a Diocese do Porto está bem viva e saudável. O recente envio de cinquenta e quatro fiéis, sacerdotes, religiosas e leigos, não é tanto uma prova de generosidade ou de ardor missionário ditado por um entusiasmo momentâneo. Constitui, antes, uma confirmação do dinamismo dos organismos vivos e saudáveis: a velocidade de cruzeiro também se pode aferir pelo estilo da condução e pelo horizonte onde se fixa o olhar.

Nesta linha, seria pedir de mais que, ao longo dos próximos cinco anos, esta Diocese do Porto, fizesse um tal trabalho pastoral e de sensibilização missionária que permitisse o envio anual de mil evangelizadores? É possível atingir essa cifra. E se é possível e desejável, temos de o fazer.

Diocese do Porto, não gastes as tuas energias a remendar. Até porque “ninguém coloca remendo novo em roupa velha; porque o remendo força o tecido da roupa e o rasgo aumenta” (Mt 9, 16). Olha ao largo e ao longe, pois o teu Fundador transportou os Apóstolos do lago da Galileia para as lonjuras do imenso oceano.

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