Diaconado Feminino? Não está para breve…

O debate sobre o diaconado feminino chegou recentemente até nós. Aconteceu na Faculdade de Teologia da UCP no Porto, no mês passado, e proporcionou o encontro com dois membros da Comissão Pontifícia instituída pelo papa Francisco para estudar o assunto.

Por Secretariado Diocesano da Liturgia

A ideia desta Comissão foi apresentada ao Papa em 2016 pela União Geral das Superioras Gerais. Após dois anos de trabalho, o relatório final desta Comissão foi entregue ao Papa em Dezembro passado. Havia – há – uma expectativa difusa:  que vai agora Francisco fazer? Nos dias 7 e 10 do corrente mês de maio, o Santo Padre pronunciou-se sobre o tema por duas ocasiões. Afinal de contas, em que ficamos? Estado da questão: nada de novo! O consenso alcançado na matéria não parece dar base suficiente para Francisco subscrever um decreto sacramental que permita avançar neste terreno.

Vejamos, brevemente, as declarações pontifícias:

No passado dia 5 de maio, o Papa regressava de avião da recente deslocação à Bulgária e Macedónia do Norte. Na habitual conferência de imprensa, a última pergunta de um dos jornalistas presentes, incidiu sobre este tema. De facto, o Papa visitara uma comunidade ortodoxa, na Bulgária, que mantém uma longa tradição de ordenar mulheres-diácono para proclamar o Evangelho. Teria já o papa alguma decisão a partir do relatório da Comissão especial por ele constituída para estudar o diaconado feminino?

Francisco não fugiu à pergunta. Qual foi a resposta?

Os membros da Comissão «chegaram a acordo até um certo ponto». Historicamente existiu um diaconado feminino. Mas as funções das diaconisas tinham pouco ou nada a haver com as que eram exercidas pelos diáconos (masculinos). O diaconado exercido por homens era coisa diferente do diaconado exercido por mulheres… Não existia um diaconado único, exercido de modo igual por homens ou mulheres.

Dúvida a esclarecer: não há consenso em considerar «ordenação» o rito de investidura das diaconisas. As fórmulas e ritos da «ordenação» diaconal feminina, para alguns dos membros da Comissão seriam apenas uma bênção, como a duma abadessa. «Havia diaconisas, ao princípio; mas era ordenação sacramental ou não? É sobre isto que se discute, e não se vê claro».

«Fundamental, porém, é que não há certeza de que se tratasse duma ordenação com a mesma forma e finalidade da ordenação masculina. Alguns dizem: permanece a dúvida, vamos continuar a estudar». E Francisco remata: «Eu não tenho medo do estudo. Contudo, até agora, nada se concluiu…».

No dia 10 de maio, Francisco encontrou-se, no Vaticano, com a União Geral das Superioras Gerais. Não podia esquivar o tema, dado que foi de uma reunião equivalente, em 2016, que surgira a decisão de constituir a Comissão especial de estudo. O Papa aproveitou para entregar à Madre Presidente desta União «o resultado do pouco em que todos [os membros da Comissão] chegaram a acordo». Acrescentou que tinha consigo os relatórios pessoais de cada um dos membros da Comissão em que uns iam mais longe do que outros. «Deve estudar-se o assunto  porque eu não posso fazer um decreto sacramental sem um fundamento teológico, histórico».

Trabalhou-se muito, reconhece o Papa, mas o que se conseguiu de consensual é pouco!

Francisco aproveitou para orientar a reflexão numa direção mais de fundo. Qual deve ser o trabalho das religiosas, da mulher e da mulher consagrada na Igreja? Não pode ser apenas funcional. E recorda que, quando era Bispo em Buenos Aires, a função de chanceler era desempenhada por uma senhora. Mas convém ir além das funções. Importa amadurecer melhor a dimensão feminina da Igreja. «A Igreja é feminina. A Igreja é mulher». Não se trata apenas de uma imagem. «É a realidade». É preciso avançar nesta teologia da mulher.