Ciências naturais e fé cristã (24) Origem da Criação e começo do Universo (II)

Neste texto continuarei a expor como é que eu, quando confrontado com o aparente antagonismo entre a visão científica do começo do Universo e a leitura cristã da origem da Criação, abordo essa problemática, esperando que isso possa ser elucidativo para os meus eventuais leitores.

Por Alexandre Freire Duarte

Pois bem, depois de tentar mostrar aos meus interlocutores a distinção entre “começo” e “origem” (algo que tratei no texto anterior), eu procuro explicar que aquela visão e aquela leitura não precisam, necessariamente, de ser tidas como oponíveis. Isto é, não precisam de sê-lo para os crentes cristãos (inclusive para os que, entre estes, são cientistas e até cosmólogos), pois tal oposição é invencível para quem ainda não quer crer em Deus.

Para o cristão, a leitura crente convida-o a acreditar, com toda a razoabilidade e sensatez, que a Criação, seja esta constituída ou não apenas pelo nosso Universo, é originada num desígnio livre e auto-desinteressado de Deus-Amor que a cria repleta de bondade e de beleza. E Deus cria-a, aspirando a que nela surjam seres que possam chegar a compartilhar, conscientemente com Ele, a felicidade de existirem e, embora de outro modo, também darem a existir numa dinâmica de relação espiritual esponsal com Ele. Mais: e que tais seres, assim ditos como criados à imagem semelhante de Deus, apreciem, juntamente com Este, aquela beleza e aquela bondade que lhes são entregues para serem cuidadas e incrementadas pelas suas decisões em prol do amor.

Se assim é, o crente pode confiar e até ter a certeza de que: a Criação não é inimiga de Deus (nem vice-versa); que Este a respeita pelo próprio valor que o Mesmo lhe outorgou; que ela existe por um motivo (apresentada no parágrafo anterior) e para uma meta determinada (que vimos, noutros textos precedentes desta rubrica, ter sido alcançada em Cristo Jesus); e, entre outras realidades – e no que até pode ser tido como um dos fundamentos incontornáveis para as ciências naturais terem surgido no âmbito cristão – que tal Criação pode, por ser inteligível e cognoscível por consciências inteligentes e querentes, ser apreciada e estudada.

Ou seja: o crente, pode aceitar, sem problema algum, a visão científica do começo do nosso Universo – coevamente baseada na teoria do “Big Bang” – logrando, ainda e a partir da leitura que a sua fé lhe convida a fazer acerca do que é a criação (o acto criador de Deus) e a Criação (o conjunto das criaturas existentes e sempre dependentes de Deus), entender o Universo como não sendo o fruto de algo (passado e/ ou presente) aleatório, caótico, caprichoso ou até ilusório (como a teoria falaciosa do “nada quântico” de Stephen Hawking, em que tal “nada” é tudo menos nada), mas sim de um amor dotado e dador de sentido e valor.