Como uma macieira…

Vinha feliz o amigo António Duarte. Acabava de participar na venda da casa da sua vizinha, órfã e incapacitada, internada num Instituto para Deficientes. O mesmo espírito compassivo que o levou a proteger esta menina que um acidente vitimou aos dois anos, também o levou ao Calvário.

Por João Alves Dias

Nas suas visitas, experienciou o que o Doutor Walter Osswald escreveu sobre esta Obra, “radical, no sentido de ir buscar força às raízes da compaixão e do amor. Diferente na doutrina e na prática”. Foi, pois, com indignação que assistiu ao seu aniquilamento pela prepotência dos funcionários dum Estado que impõe, como único, o seu modelo de assistência social. É a negação da democracia que está na sua origem. Ofereceu-me o livro «Padre Baptista – O Calvário».

Abri-o e logo me solidarizei com o seu coordenador: “Centenas de doentes terminais, atingidos pelos males mais terríveis e por vezes até repelentes tiveram, graças à devoção sem limites do padre Baptista, um lugar para viver e até para morrer com dignidade”.

Na “Apresentação”, o P. Júlio Pereira, que conheci menino da catequese, clarifica: “Este «O Calvário», reflexo de uma Obra humana de sabor divino, quer ser motivo para que todo o homem acredite e se empenhe pela vida” O Professor Walter Osswald, – ”figura incontornável da história do País” – começa assim o seu “Prefácio”: ”Tenho a honra imerecida e a alegria de apresentar uma seleção dos escritos do Padre Baptista”. E termina: “Mas gostaríamos de reler com ele o que escreveu em «A macieira», a tal que caiu devido ao peso dos frutos que prodigamente a outros ofereceu.

Possamos nós dizer, como o Padre Baptista reza: «Gostaria de tombar um dia como ela». No “Posfácio”, Henrique Manuel Pereira retoma o tema: “Ou, quem sabe, a melhor nota sobre Padre Baptista se ache em certa macieira que um dia tombou ao peso dos frutos. Falando daquela árvore, por certo sem disso ter consciência, a si se retratava”. Ao ler o texto do P. Baptista «Veio por seu pé”, creio ter encontrado o motivo de desconforto que causava à ideologia instalada: “O tempo fez leis, criou normas, exigiu papéis. A Obra da Rua, na sua simplicidade, é a negação de tudo isso. Basta-lhe o pobre em seu viver amargurado.

Tudo aquilo é muitas vezes capa risonha e guarida da mentira”. Quando não se aguenta uma voz, o mais fácil é calá-la. Isto é vulgar nas ditaduras, mas fica muito mal em democracia.… Amigo leitor, é gratificante ler estes textos do P, Baptista onde, na dor, superabunda o amor. Presenteemos os amigos com este livro cuja venda se “destina integralmente à Casa do Gaiato”. Não deixemos cair no esquecimento a maldade que vitimou os doentes do Calvário e a Obra mais dolorosamente humana do «Pai Américo». Por onde anda a voz profética da Igreja? “Tranquilizai-vos, sou eu. Não tenhais medo” (Mat,14,27)