Mensagem (33): O dedo em riste

Foto: Rui Saraiva

A antiguidade não dispunha de universidades. Mas tinha sábios. E quem queria aprender «matriculava-se» na escola desses mestres. Evidentemente, eram os alunos quem escolhia a «escola» a frequentar. Bem mais que hoje, pois, na atualidade, os critérios de seriação dependem das décimas e das centésimas.

Jesus alterou completamente os critérios da matrícula: não foram os alunos que O escolheram a Ele, mas foi Ele quem os chamou. Pessoalmente. Pelo nome. Com uma iniciativa completamente sua e sem pressão de ninguém.

No relato evangélico do chamamento dos primeiros Apóstolos (Mc 1, 16-20), a cena é clara: Jesus viu, dirigiu a palavra e chamou-os. E a partir daí, estes três verbos passaram a constituir o tripé da vocação cristã: o Senhor vê, fala e chama. De tal forma que o discípulo não é o que aprende ou escolhe, mas o que segue ou faz caminho com alguém. No discipulado não há doutrinas: há disponibilidade para encetar caminho em conjunto.

Consequências? Acaba por se adquirir “cem vezes mais” do que aquilo que se deixa, mas tudo tem de começar por «deixar», por uma separação: o trabalho, a família, a propriedade. Fundamentalmente, de deixar o individual e as legítimas espectativas pessoais para passar a considerar os outros e o coletivo como o centro nevrálgico da existência. Tudo em contexto de absoluta liberdade interior. E de felicidade, mesmo que o não pareça.

A semana das vocações, que vivemos, será, apenas, mais uma efeméride de calendário se não compreendermos isto e não atuarmos em conformidade. Se as famílias e, fundamentalmente, os «pequenos pastores» não fizerem como Jesus, o grande e “Bom Pastor”. Depois de «ver» a pessoa e de «dizer» que a tarefa vocacional é tão atual hoje como no passado, há que a «chamar», porventura de dedo em riste: “Ó tu, vem e segue Jesus. Deus escolhe-te para o serviço do seu povo!”.

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