Japão: a continuidade de um império

Houve um tempo, e ainda não vai longe, em que o Japão era motivo de grande interesse para a Comunicação Social.

Por António José da Silva

Foi o tempo em que o mundo foi tomando conhecimento do extraordinário avanço económico de um país que saíra tragicamente derrotado de uma guerra em que os seus líderes escolheram o lado errado, ao provocar e enfrentar os países aliados, nomeadamente os Estados Unidos.

Foi uma derrota tão trágica e tão humilhante que, na altura, era legítimo pensar que o chamado pais do Sol Nascente nunca mais teria um lugar importante na cena internacional. A História ensina que, em política, os inimigos de hoje podem ser os amigos de amanhã, e que expressões como “nunca mais” são sempre de evitar.

Mesmo assim, ninguém esperaria que a recuperação surpreendentemente rápida da economia e do prestígio do Japão fosse obtida graças ao apoio dos seus grandes inimigos da véspera, numa reviravolta que transformou o Japão no aliado mais importante dos Estados Unidos no Extremo Oriente.

Com o decurso do tempo, e vivendo já em plena normalidade democrática, o ritmo do progresso económico do país abrandou um pouco, embora nunca tenha perdido, até hoje, o seu lugar de honra entre os países mais desenvolvidos do mundo.

Vem isto a propósito de um acontecimento a que a Comunicação Social não deixou de dar algum relevo, pelo menos no domínio da imagem. Falamos da abdicação do imperador Akito e da sua substituição pelo seu filho Narubitto. Foi uma substituição tranquila, até porque, segundo a constituição japonesa, o novo imperador não terá qualquer envolvimento na vida política do país, o que não aconteceu, pelo menos no tempo do seu avô, o imperador Hiroíto. Hoje praticamente ninguém põe em dúvida a sua responsabilidade moral na política belicista e imperialista do governo nipónico de então, pelo que a sua condenação por crimes de guerra não constituiria, na altura, qualquer surpresa.

No entanto, os responsáveis norte americanos, a começar pelo famoso general Mac Arthur, tiveram o bom senso de perceber que uma condenação do imperador constituiria um obstáculo intransponível no seu projecto de recuperação de um país de que iriam precisar com urgência. Condenar um imperador que a grande maioria dos japoneses via como um Deus, constituiria uma ofensa imperdoável para esse mesmo povo.

Hoje, ao ver as imagens surpreendentemente serenas e elucidativas da abdicação do imperador Akito e da chegada do seu filho ao trono, ninguém duvida de que o Império do Sol Nascente está para durar.