As ciências naturais e a fé cristã (22) A criação e a evolução (III)

Nestas derradeiras palavras sobre a relação entre a evolução e a criação, gostaria de abordar duas breves consequências do que já afiancei nos textos precedentes.

Por Alexandre Freire Duarte

E isto, deixando claro que não pude nem poderei ser totalmente exaustivo nas minhas aclarações, nem, obviamente, conseguirei esgotar tudo o que poderia ser dito sobre esta temática.

Em primeiro lugar, gostaria de avançar que a possibilidade de se articular a evolução com a criação, poderá lançar alguma luz sobre os acidentes naturais que existem no Universo em geral, e no planeta Terra em particular. Tais como: choques de planetas com asteroides, terramotos, mutações genéticas suscitadoras de doenças, etc.

Estes talvez sejam, de certo modo, parcialmente inevitáveis para que possam surgir, justamente e dentro do já nosso conhecido cenário do respeito divino pelas leis que regem tal Universo, criaturas capazes de gizarem estratégias que evitem tais situações. E inevitáveis mesmo para um Deus que, enquanto Amor que ama em expansão, nem pode deixar de amar, nem impedir que O possamos amar (o que ocorreria se Ele interferisse no nosso livre-arbítrio que, baseado na imponderabilidade basilar daquelas leis, permite a nossa liberdade).

Dito isto, acreditando-se num Deus infinitamente bom que ama incondicionalmente tudo o que cria, podemos ter a certeza de que Ele, conforme nos afiançou pela Sua revelação, garantirá, a todos os seres que se assemelham a Si pelo conhecerem e amarem reflexamente em liberdade (e em especial aos que sofrem conscientemente fruto de tais acidentes), a doação de um bem espiritual pessoal infinitamente: a vida em Si após a morte biológica.

Um segundo elemento que gostaria de abordar, é que a articulação entre criação e evolução pode aclarar, em parte, a matriz biológica – se assim a pudermos denominar – do que nós, cristãos, designamos de “pecado original”. Este, além da sua compreensão religiosa mais ou menos comum e correta, também pode ser iluminado pelo facto de que, ao longo de milhares de anos, os primeiros seres humanos, na sequência daqueles seres que os terão precedido, poderem ter elegido aderir a tendências para a agressão e o egoísmo, em vez de optarem por acolher e desenvolver outras disposições associadas ao altruísmo e à bondade.

A morte biológica já existia certamente antes de terem surgido os primeiros seres humanos, mas estes terão trazido até si mesmos aquela morte espiritual que decorre de uma alienação de Deus e da perceção da Sua realidade e presença. Uma alienação que, embora não seja a última palavra na relação entre Deus e a humanidade – Jesus Cristo é-a –, acaba por ser incrementada sempre que cada um de nós realiza sucessivos reforços comportamentais de desamor.