A primeira Páscoa de D. Manuel Linda na Diocese do Porto

D. Manuel Linda viveu pela primeira vez as celebrações pascais como bispo do Porto. Publicamos aqui o essencial das homilias proferidas no Tríduo Pascal. Começamos pela Missa Crismal na manhã de Quinta-Feira Santa

Texto e fotos Rui Saraiva

O beijo na identidade do sacerdote

Teve lugar na manhã de Quinta-Feira dia 18 de abril a Missa Crismal. O bispo do Porto acolheu os sacerdotes e diáconos da diocese para dois momentos fundamentais: a renovação das promessas sacerdotais por parte dos sacerdotes perante o seu bispo e a bênção dos Santos Óleos, do Batismo, do Crisma e dos Enfermos.

Na sua homilia, D. Manuel Linda citou o cardeal Sean O´Malley, arcebispo de Boston, que recentemente esteve em Portugal, de 11 a 15 de março, orientando o Retiro da Quaresma do episcopado português. O cardeal O’Malley que é também membro do Conselho de Cardeais que trabalha com o Papa Francisco e é presidente da Comissão Pontifícia para a Proteção dos Menores propõe no seu livro “Procura-se Amigos e Lavadores de Pés” que o “beijo, na liturgia” permite descobrir “o coração do sacerdote” e a sua “identidade”.

“Sim, o sacerdote sabe beijar” – afirmou D. Manuel Linda – porque diariamente o exprime na liturgia. O bispo do Porto referiu que o sacerdote beija o altar, o Evangelho, dá o beijo da paz aos fiéis e beija a cruz.

Todos estes sinais e atitudes explicadas pelo Cardeal O’Malley são, segundo D. Manuel Linda marcas do sacerdote para que possa proclamar a Palavra de Deus e “amar o seu povo” e “preocupar-se com os frágeis e os marginalizados”. “Gostar de estar com o povo e conhecer os seus nomes” – disse o bispo do Porto.

Uma Igreja diocesana “cada vez mais eucarística”

Na Quinta-Feira Santa, dia 18 de abril, D. Manuel Linda presidiu à Missa da Ceia do Senhor com o Rito do Lava-Pés. Na sua homilia, o bispo do Porto recordou o gesto de Jesus na Última Ceia quando decidiu “selar com o exemplo as palavras e os gestos” e aquilo que “tinha transmitido aos discípulos, ao longo de três intensos anos”. Jesus “chocou-os pelo exemplo: lavou-lhes os pés” – afirmou o bispo do Porto salientando as palavras de Jesus: “… assim como Eu fiz, vós façais também”.

Neste sentido, o bispo do Porto declarou que deseja que a “Diocese do Porto” seja “uma Igreja cada vez mais eucarística” onde “não faltem os sacerdotes”, que “celebra festivamente o domingo”, “uma Igreja simples” e “voltada para os frágeis”.

O bispo do Porto deseja também “uma Igreja missionária, em saída” que leve “o corpo de Cristo” aos mundos “da política, da comunicação social, da economia, da cultura e do desporto”.

Em particular, D. Manuel Linda declarou desejar duas concretizações na Diocese do Porto: “que todas as igrejas paroquiais estejam de portas abertas ao longo do dia, com condições de segurança e de vigilância, porventura mediante a permanência de equipas de voluntários; e que, nesta cidade episcopal do Porto, a par das Paróquias, Reitorias e Capelanias, se abra uma pequena capela, no centro histórico, exclusivamente para a adoração ao Santíssimo, em permanência”.

Jesus permanece, mesmo no sofrimento extremo

Na Sexta-Feira Santa, 19 de abril, o bispo do Porto, presidiu à Celebração da Paixão do Senhor. Na sua homilia avançou com uma pista de reflexão: “Mas será que Jesus nos salvou porque sofreu?” O bispo do Porto deu a resposta: “Não”. E completou: “O Senhor salvou-nos porque nos ama e não se afastou de nós, mesmo tendo de suportar o extremo sofrimento que deveria ser nosso e passou para Ele. Não se afastou. A Redenção não depende da quantidade do sofrimento. A Redenção acontece nesta proximidade de Deus à história humana, tecida de sangue, de suor, de lágrimas, de injustiça, de dor e de pecado. Em Jesus Cristo, Deus assume essa história e permanece connosco, mesmo quando o sofrimento se torna extremo e humanamente incompreensível” – afirmou D. Manuel Linda.

Frisou ainda que “Jesus não pronunciou discursos ou elaborou teorias”, mas sim, “retirou a dor física e psicológica”, com “a força salvífica de Deus, combateu a dor porque sempre soube viver connosco e para nós” – declarou.

“O amor de Deus não nos retira o sofrimento, mas dá um sentido ao sofrimento” – disse o bispo do Porto assinalando “um certo sadismo que se está a apoderar da sociedade contemporânea, que sente prazer em gerar vítimas”, como acontece, por exemplo, com as “fake news”, “notícias falsas”.

“… na Paixão e Morte de Jesus, o amor de Deus não foge do nosso sofrimento. Não é surdo à injustiça, à dor, aos gemidos e às angústias do homem. Pelo contrário, aproxima-se, assume-o e redime-o. Torna Deus presente às nossas fragilidades para colmatar a nossa pequenez.

E nisto consiste a Redenção” – disse o bispo do Porto na conclusão da sua homilia deixando aos fiéis uma interrogação: “Mas será que nós estamos do lado de Deus?”

Anunciar a Ressurreição com o testemunho pessoal

Na noite de Sábado Santo, D. Manuel Linda presidiu à Vigília Pascal. Na sua homilia sublinhou que com a “ressurreição do Senhor” “passamos das trevas à luz, da tristeza à alegria incontida”.

O bispo do Porto recordou a experiência das “mulheres que foram ao sepulcro” que “iam cheias de dor” mas “sentiram fazer-se luz no seu interior ao recordar a garantia de Jesus de que três dias depois de morto havia de ressuscitar, e atingiram a plenitude da alegria absoluta no encontro com o Cristo vivo” – afirmou.

D. Manuel Linda assinalou que a “Páscoa” não é uma “experiência individual” mas um “acontecimento de toda a Igreja” que deve ser “comunicado a todos”. Proferiu uma frase para reflexão: “A nossa fé na ressurreição obriga-me a comunicá-la, tal como às mulheres de que fala o Evangelho?”

No final da sua homilia, o bispo do Porto afirmou que não devemos ter “medo do anúncio” e declarou que “para isso não são precisas palavras convincentes: chega o testemunho pessoal”.

Anunciar a Páscoa defendendo o Domingo

Na Missa do Domingo de Páscoa, D. Manuel Linda na sua homilia recordou os sinais da ressurreição: “a pedra de acesso ao túmulo retirada, as ligaduras no chão, o sudário enrolado”. Em particular, sublinhou a figura de João, o “discípulo amado” que “viu e acreditou”.

O bispo do Porto salientou “o mais jovem dos Apóstolos” viu “a partir do olhar da afetividade e acreditou confiadamente” através de uma “intuição amorosa e de proximidade”. “Um amor que nada nem ninguém pode quebrar ou pôr em causa” – disse D. Manuel afirmando que “esta continua a ser a grande via de acesso ao mistério central da nossa fé: o da ressurreição de Cristo”.

A este propósito, D. Manuel Linda frisou que o Domingo é uma “marca identitária da cultura ocidental humanista” que, no entanto, “está a perder-se”. “E a perder-se em detrimento da dignidade pessoal e dos direitos humanos” – declarou o bispo do Porto assinalando que a “abertura dos supermercados e dos centros comerciais ao Domingo” é “expressão de um certo subdesenvolvimento humano e mesmo económico”.

Afirmando que na nossa sociedade se está a ”gerar uma civilização fria, sem alma, individualista, sem profundidade de relações”, o bispo do Porto convocou os fiéis, no final da sua homilia, a trazerem “nova alma à nossa cultura” porque “a Páscoa é a forma de percebermos uma nova comunhão entre as pessoas” – afirmou.