Editorial: Esperançosos caminhos da juventude

Se há algum sector da sociedade em que a Igreja, como organização positivamente interveniente no universo mental e cultural das estruturas sociais se pode orgulhar é da presença e intervenção da juventude.

Por M. Correia Fernandes

Em todas as zonas da diocese do Porto e do país se multiplicam as iniciativas em que a intervenção juvenil é determinante. Pode mesmo dizer-se que uma análise da participação dos fiéis nas celebrações das igrejas terá (faltam estatísticas mas há verificações) dois corpos principais: a infância e a juventude, dum lado, e a idade madura (digamos, acima dos cinquenta anos) do outro lado.

Parecem rarear as pessoas das idades centrais da vida: os casais jovens e as gentes do trabalho, talvez também porque os horários de trabalho são cada vez mais variáveis, e engendram as faltas de hábito e os ritmos de presença ou de ausência.

Um exemplo desta ação: a Jornada Diocesana da Juventude 2019, realizada pelo Patriarcado de Lisboa em Óbidos, que o Patriarca considerou “um encontro anual que nos dá muita força nesse sentido que o Papa agora apresenta… como sendo a juventude a força da Igreja” e que reuniu mais de mil e duzentos jovens.

Outro exemplo vindouro: a Jornada Diocesana da Juventude da diocese do Porto, e realizar em Penafiel nos dias 12 e 13 de abril, procurando dar corpo ao desejo do bispo diocesano, que transmitiu aos jovens na despedida de outro evento, o “Panamá in Douro”: “quero que saibam que a juventude é uma prioridade desta Diocese… vós sois protagonistas desta Diocese, desta Igreja do Porto”. Espera-se por isso que o evento próximo seja também uma grande manifestação da vitalidade da juventude diocesana.

Sabe-se como o Papa Francisco encara como essencial e prioritária a pastoral orientada para a presença e valorização da juventude na Igreja, como expressou na recente exortação apostólica pós-sinodal “Cristo vive”, de 25 de março, dirigida aos jovens e a todo o povo de Deus.

Os pontos mais salientes da mensagem têm por raiz a própria palavra da escritura, no antigo e no novo testamento, onde realça “o vigor interior, os sonhos, o entusiasmo, a esperança e a generosidade”, que se encontra na fi gura de Jesus, adaptando aos jovens o apelo do evangelho de Lucas: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te”. Percorre depois a vida de Jesus como sinal da “juventude da Igreja, que se deixa renovar”, evitando a tentação de perder o entusiasmo, que deve estar atenta aos sinais dos tempos.

Que não seja calada e tímida , e embora humildemente segura dos seus dons, procura estar atenta aos grandes vectores das forças sociais que elevem a dignidade humana, referindo a busca dos valores da justiça, da igualdade entre mulheres e homens, a promoção de justiça social e evitando toda a forma de violência. Aos jovens recomenda a santidade, apresentando o exemplo dos que deram a vida por Cristo, recordando São Francisco de Assis e de jovens que se entusiasmaram, pedindo que como eles os jovens de hoje sejam “alegres, corajosos e devotados que ofereçam ao mundo novos testemunhos de santidade”.

Este apelo à santidade é especialmente simbólico: este conceito deve ter a sua dinâmica própria nos jovens É curiosa e simbólica a frase: “Vós sois o agora de Deus”, estimulando-os a concretizar na vida as grandes convicções. Se a cultura de hoje promove um modelo de pessoa associado à imagem juvenil, não deixa de abordar o sentido da sexualidade, o ambiente digital, as migrações como “paradigma do nosso tempo”.

Mas o paradigma essencial proposto para a juventude de hoje é a presença de um Deus que salva e que vive, e um Espírito que dá avida, apelando assim ao crescimento e à maturação psicológica e espiritual (vivemos também em tempos de espiritualismo), aos percursos de fraternidade, à busca do compromisso, incluindo o sentido missionário.

Há ainda um apelo significativo à busca das raízes, ao amor e à família, ao trabalho e ao discernimento vocacional, e a três dimensões da caridade: a pessoal e familiar, a social e a política, e os valores da convivência, dos direitos humanos e da misericórdia. Será que os jovens de hoje conseguem agarrar e dar expressão a estes apelos?