“Christus Vivit”: para aprofundar a Pastoral dos Jovens (c/áudio)

Na Exortação Apostólica do Papa Francisco “Christus Vivit, “Cristo Vive” o capítulo VII é dedicado à “Pastoral dos Jovens”. Uma parte do texto do Santo Padre que procura fazer refletir os agentes de pastoral juvenil.

Por Rui Saraiva

 

Foi publicada na terça-feira dia 2 de abril a Exortação Apostólica do Papa Francisco “Christus Vivit”, “Cristo Vive”, dedicada aos jovens. Este documento papal é fruto do Sínodo dos Bispos sobre os Jovens realizado em outubro de 2018 no Vaticano e está dividido em 9 capítulos e 299 parágrafos. Destacamos aqui o capítulo VII ao qual o Papa chamou: “A Pastoral dos Jovens”. O Santo Padre começa por afirmar que a pastoral juvenil foi “abalroada pelas mudanças sociais e culturais” e pede que os jovens sejam “mais protagonistas nas propostas pastorais”.

Uma pastoral sinodal

“A pastoral juvenil precisa de adquirir outra flexibilidade, convidando os jovens para acontecimentos que, de vez em quando, lhes proporcionem um espaço onde não só recebam uma formação, mas lhes permitam também compartilhar a vida, festejar, cantar, escutar testemunhos concretos e experimentar o encontro comunitário com o Deus vivo” – diz Francisco na sua Exortação.

Segundo o Papa “a pastoral juvenil só pode ser sinodal, ou seja, capaz de dar forma a um «caminhar juntos» que implica «a valorização – através dum dinamismo de corresponsabilidade – dos carismas que o Espírito dá a cada um”. Para o Papa “ninguém deve ser colocado nem deixado colocar-se de lado”.

Grandes linhas de ação

“ Queria apenas assinalar, brevemente” – diz o Santo Padre – “que a pastoral juvenil supõe duas grandes linhas de ação. Uma é a busca, a convocação, a chamada que atraia novos jovens para a experiência do Senhor. A outra é o crescimento, o desenvolvimento dum percurso de maturação para quantos já fizeram essa experiência” – refere o Papa.

Sobre a busca, o Santo Padre assinala confiar nos jovens para decidirem os melhores caminhos para convidarem outros jovens: Diz que deve privilegiada uma “linguagem da proximidade” e uma “gramática do amor”.

Quanto ao “crescimento” de referir que o Papa faz uma “advertência importante” esclarecendo que após um encontro com Jesus que tenha tocado o coração de um jovem, não se deve propor um “encontro de formação” onde sejam abordadas apenas “questões doutrinais e morais”. O resultado, muitas vezes, é “muitos jovens aborrecem-se, perdem o fogo do encontro com Cristo e a alegria de O seguir, muitos abandonam o caminho e outros ficam tristes e negativos” – escreve o Papa pedindo que se suscite o enraizamento das “grandes experiências que sustentam a vida cristã”.

O Santo Padre pede ainda que se acolham os jovens através da linguagem e das atitudes da “fraternidade” e da “amizade”, criando com eles “família” e verdadeiras “casas de comunhão” onde se criem “laços fortes” baseados na confiança, na paciência e no perdão.

A pastoral das instituições educacionais

O Papa pede uma atenção especial para o ambiente escolar. “…a escola precisa duma urgente autocrítica; basta olhar os resultados da pastoral de muitas instituições educacionais: uma pastoral concentrada na instrução religiosa que, frequentemente, se mostra incapaz de suscitar experiências de fé duradouras” – adverte Francisco.

O Papa apela para um “relançamento das escolas e universidades «em saída»” que sejam missionárias e capazes de promover a “cultura do encontro, a necessidade urgente de «criar rede» e a opção pelos últimos” – afirma.

Diferentes áreas de desenvolvimento pastoral

Francisco assinala na sua Exortação que “muitos jovens são capazes de aprender a amar o silêncio e a intimidade com Deus”. Refere mesmo que “aumentou” o número dos “grupos que se reúnem para adorar o Santíssimo Sacramento e rezar com a Palavra de Deus” – assinala o Papa que afirma que “uma oportunidade privilegiada para o crescimento e para a abertura ao dom divino da fé e da caridade é o serviço” pois muitos jovens sentem-se atraídos por “ajudar os outros, especialmente as crianças e os pobres”.

O Santo Padre valoriza também as “expressões artísticas, como o teatro, a pintura e outras”, apontando a importância essencial da “música”. Salienta a significativa “relevância que assume entre os jovens a prática desportiva”. Assinala ainda a sensibilidade dos jovens para a “salvaguarda do meio ambiente”.

Uma pastoral juvenil popular

“Além da habitual ação pastoral que realizam as paróquias e os movimentos, segundo determinados esquemas, é muito importante dar espaço a uma «pastoral juvenil popular», que tem estilo, tempos, ritmo e metodologia diferentes” – escreve o Papa assumindo que esta deve ser “flexível” e proposta por líderes populares “não elitistas ou fechados”.

O Papa apela para uma pastoral que não sufoque os jovens “com um conjunto de regras que dão uma imagem redutora e moralista do cristianismo”. “Somos chamados a investir” na audácia dos jovens “educando-os para assumir as suas responsabilidades” numa dinâmica de encontro em que “o erro” e “a crise” são experiências que podem revigorar a vida. Francisco pede que “haja lugar para todo o tipo de jovens” numa Igreja que seve ser de “portas abertas”.

Sempre missionários

“Se soubermos escutar aquilo que o Espírito nos está a dizer, não podemos ignorar que a pastoral juvenil deve ser sempre uma pastoral missionária” – diz o Papa. “Os jovens enriquecem-se muito quando superam a timidez e encontram a coragem de ir visitar as casas, pois assim entram em contacto com a vida das pessoas, aprendem a olhar mais além da sua família e do seu grupo, começam a compreender a vida numa perspetiva mais ampla” – escreve o Santo Padre assinalando que os jovens podem ser missionários, por exemplo, no âmbito das redes sociais.
“As missões juvenis, que se costumam organizar nas férias depois dum período de preparação, podem suscitar uma renovação da experiência de fé e também projetos vocacionais sérios” – refere ainda Francisco.

O acompanhamento pelos adultos

“Os jovens precisam de ser respeitados na sua liberdade, mas necessitam também de ser acompanhados” – escreve o Santo Padre acentuando a necessidade de que “a família deveria ser o primeiro espaço de acompanhamento”.
O acompanhamento dado pelos adultos é importante para os jovens e durante o Sínodo de outubro de 2018 foi destacada essa necessidade. Foram mesmo adiantadas algumas características de um adulto que acompanhe jovens: “… ser um cristão fiel comprometido na Igreja e no mundo (…) não julgar, mas cuidar; escutar ativamente as necessidades dos jovens; responder com gentileza; conhecer-se; saber reconhecer os seus limites; conhecer as alegrias e as tribulações da vida espiritual”.

Citada também no texto do Papa a qualidade de “saber reconhecer-se humano e capaz de cometer erros”. No fundo “caminhar” ao lado dos jovens “deixando-os ser os protagonistas do seu próprio caminho”.

A Exortação Apostólica do Papa Francisco “Cristo Vive”, agora publicada, deverá permitir uma renovação do trabalho desenvolvido com os jovens nos próximos anos. E a Jornada Mundial da Juventude de 2022 em Lisboa será uma importante etapa.