
Por Secretariado Diocesano da Liturgia
O Tríduo Pascal engloba celebrações mais importantes do ano litúrgico. Assim ensina de forma inequívoca a Santa Mãe Igreja, no documento em que se consignam as normas sobre o Ano Litúrgico, publicado na secção introdutória do Missal Romano. Referimo-nos às «Normas Gerais sobre o Ano Litúrgico e o Calendário», promulgadas por «motu proprio» de São Paulo VI em 14 de fevereiro de 1969. Lê-se no nº 18 desse documento:
«O sagrado Tríduo da Paixão e Ressurreição do Senhor é o ponto culminante de todo o ano litúrgico, porque a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus foi realizada por Cristo especialmente no seu mistério pascal, pelo qual, morrendo destruiu a nossa morte e ressuscitando restaurou a vida (cf. SC 5). A proeminência que na semana tem o domingo tem‑na no ano litúrgico a solenidade da Páscoa (cf. SC 106)».
Vale a pena recordar também a Carta Circular da Congregação para o Culto Divino sobre a preparação e celebração das festas pascais [=PCFP]. É um documento datado já de 1988, mas rico de sugestões pastorais que continuam a ser pertinentes e atuais. De facto, estamos ainda longe de, em toda a parte, termos feito a receção da renovação litúrgica querida pelo último Concílio. A citada Carta Circular visava, precisamente, inculcar essa proeminência da Páscoa:
“Tal como a semana tem o seu início e o seu ponto culminante na celebração do Domingo, sempre caracterizado pela sua índole pascal, assim também o centro culminante de todo o ano litúrgico refulge na celebração do sagrado Tríduo Pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor, preparada pela Quaresma e prolongada na alegria dos cinquenta dias seguintes”. (PCFP, nº 2).
Infelizmente, ainda não foi superada uma mentalidade redutora para a qual o Tríduo Pascal, à imagem de muitos outros «tríduos» e novenas devocionais, é um mero período preparatório cuja importância se subordina à da festa que virá depois. Reféns dessa mentalidade, muitos fiéis – incluindo respeitáveis membros da hierarquia da Igreja – contam o «Tríduo Pascal» de Quinta-Feira a Sábado Santo, deixando de fora o Domingo de Páscoa. O documento que citamos é claro: a «solenidade da Páscoa» celebra-se no «Sagrado Tríduo da Paixão e Ressurreição do Senhor» e é esse o ponto culminante do ano litúrgico. As celebrações que o integram são, portanto, as mais importantes da vida das nossas comunidades cristãs.
Importa celebrar em espírito e verdade este centro de todo o ano litúrgico e da vida cristã que é o Tríduo de Cristo padecente, sepultado e ressuscitado. São três dias que perfazem o mistério integral da Páscoa: paixão e morte (1º dia), sepultura (2º dia) e ressurreição (3º dia). Convém superar, definitivamente, uma forma de contar o tríduo em que a meta da «passagem» fica de fora, como se não fosse a ressurreição o artigo decisivo da fé dos cristãos. A quinta-feira Santa é o último dia da Quaresma e não o primeiro do Tríduo. Por outro lado, há que dar consistência própria ao segundo dia que deixou de ser, desde Pio XII, «sábado de aleluia» para ser o dia da sepultura em que a Igreja medita no mistério abissal da descida do Senhor da Vida ao abismo da morte para resgatar o primeiro Adão e toda a sua posteridade do cativeiro da morte.
De acordo com as Escrituras e o símbolo da fé que todos professamos, o «terceiro dia» sempre foi o da ressurreição. De facto, o mistério pascal ocupa o centro do símbolo da fé tal como ocupa o centro da Liturgia da Igreja: «também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos, padeceu e foi sepultado; ressuscitou ao terceiro dia conforme as Escrituras» – assim se professa a fé na celebração da Eucaristia segundo a fórmula consagrada pelos primeiros Concílios Ecuménicos. Na versão do símbolo dos Apóstolos diz-se, de modo muito parecido: «padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia».