
Fomos nós quem contribuiu para o ciclone Idai e, consequentemente, para o rasto de morte e destruição que deixou no centro de Moçambique? A pergunta é tudo menos retórica ou ociosa.
É óbvio que ninguém quer acarretar com as culpas. É óbvio que nenhum de nós se foi confessar, acusando-se de estar implicado no sumo mal das perdas de vidas e bens de primeira necessidade. É óbvio que nem sequer pensamos nisso e tomamos a culpa à natureza.
Não obstante, os cientistas espicaçam a nossa consciência ao garantirem que há interferências entre poluição e mudanças climáticas. E o Papa Francisco, com a sabedoria e a franqueza que o caracterizam, também aponta o dedo ao nosso estilo de vida sôfrego de consumismo, o que acaba por se repercutir na pobreza dos pobres. Escreve ele na «Encíclica sobre o cuidado da casa comum»: “A deterioração do meio ambiente e da sociedade afetam de modo especial os mais frágeis do planeta. Tanto a experiência comum da vida quotidiana como a investigação científica demonstram que os efeitos mais graves de todas as agressões ambientais recaem sobre as pessoas mais pobres” (LS 48).
Não é aqui o lugar para desenvolver este assunto, porventura, recorrendo aos dados científicos. Mas é altura de nos comprometermos com a indigência dos necessitados, tanto mais, então, porque o nosso estilo de vida «desarruma» e põe em perigo a casa comum de toda a humanidade.
A sociedade portuguesa e internacional está a responder razoavelmente às urgências que a situação nos impõe. Claro que a Diocese do Porto não poderia ficar na penumbra. Mercê dos contributos da Irmandade dos Clérigos e do Fundo Diocesano, temos já 60.000 euros para transferência imediata para as dioceses mais atingidas: Beira, Chimoio, Gurué, Quelimane e Tete. Mas o sonho é chegarmos aos 100.000. Para isso, precisamos do contributo dos nossos cristãos, individualmente ou por intermédio das suas paróquias e organismos. A conta é a do Fundo Social Diocesano: PT50.0018.2194.01559041020.17, com a indicação “Moçambique”.
Há um velho princípio da moral que diz que para o pobre se desenvolver, os ricos têm de se envolver. Neste caso, para os pobres refazerem a sua vida, é indispensável que a nossa se comprometa com a deles.
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