Com cerca de 268.000 quilómetros quadrados de superfície e um pouco mais de cinco milhões de habitantes, a Nova Zelândia situa-se no outro lado do mundo.
Por António José da Silva
Certamente por isso, e sobretudo por se tratar de um país desenvolvido onde a vida social e política sempre decorreu pacificamente, raramente merece a atenção dos “Media”, a não ser quando as televisões dão imagens da passagem do ano e quando a sua equipa nacional de râguebi participa em torneios internacionais desta modalidade desportiva em que é considerada uma das melhores do mundo. Esta súbita relevância mediática deveu-se a um atentado terrorista que veio destruir a ideia de que ainda há paraísos imunes a essa espécie de fatalidade do nosso tempo. Referimo-nos ao terrorismo.
O relevo que a Comunicação Social deu a mais esta tragédia deve-se a vários factores. Antes de mais, ao número de vítimas que provocou: meia centena de mortos e dezenas de feridos, muitos deles em estado grave. Em segundo lugar, esse relevo tem a ver com as circunstâncias que rodearam o ataque: é que este foi levado a cabo em duas mesquitas e em tempo de oração.
Um outro motivo para o relevo que a Comunicação Social conferiu ao atentado foi a revelação de que o seu autor é um homem branco, ainda relativamente jovem, e que não fez segredo das razões que o levaram a cometer uma tal barbaridade: um ódio compulsivo aos imigrantes muçulmanos que ele vê como invasores de territórios cristãos e destruidores da sua cultura. Foi aliás à história pessoal de Brenton Tarrant, assim se chama o terrorista neozelandês, que os “media” consagraram a maior parte do espaço e do tempo relativos a esta tragédia, destacando a sua ligação a Anders Breivick, o autor confesso e orgulhoso dos ataques que este levou a cabo em Oslo e na ilha e Utoya, na Noruega, ataques esses que provocaram cerca de oitenta mortos.
Como se isto não chegasse para explicar o interesse dos “media” pelo atentado terrorista da passada sexta feira, há que acrescentar ainda o pormenor inédito de este ter sido transmitido em directo por duas das mais conhecidas redes sociais que têm milhões de utilizadores em todo o mundo: Facebook e Twitter. Quer isto dizer que o terrorista foi filmando o seu crime enquanto o ia cometendo e os consumidores daquelas redes sociais iam testemunhando, Sinais dos tempos que vivemos e que levantam cada vez mais problemas aos chamados gigantes tecnológicos. O terror em directo é apenas um desses problemas.