
Leitura do Livro de Josué Jos 5, 9a.10-12
«Os filhos de Israel acamparam em Gálgala e celebraram a Páscoa, no dia catorze do mês, à tarde,
na planície de Jericó».
Salmo Responsorial Salmo 33 (34)
Saboreai e vede como o Senhor é bom.
Leitura da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios 2 Cor 5, 17-21
«Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura».
Aclamação ao Evangelho Lc 15, 18
Glória a Vós, Cristo, Palavra de Deus.
Vou partir, vou ter com meu pai e dizer-lhe:
Pai, pequei contra o Céu e contra ti.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas Lc 15, 1-3.11-32
«Este homem acolhe os pecadores e come com eles».
«Comamos e festejemos, porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado».
Viver a Palavra
No IV Domingo deste itinerário quaresmal somos convidados a saborear e a contemplar a bondade e a ternura de Deus que preenche as nossas vidas com uma alegria absolutamente que nos impele a ser testemunhas do Evangelho do amor e da misericórdia como recorda o papa Francisco: «a Alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria» (EG 1).
A liturgia da Palavra deste Domingo, também designado Domino Laetare, está marcada por esta alegria que não é mero sentimento de contentamento, mas a certeza da presença terna e misericordiosa de Deus. A alegria do Povo de Israel que celebra pela primeira vez a Páscoa na terra de Canaã e fazem memória festiva da certeza de um Deus que salva, conduz e liberta o Seu Povo para o conduzir à terra da promessa. A alegria que se converte em louvor e reconhecimento e faz cantar com as palavras do salmista “saboreai e vede como o Senhor é bom”. A alegria de um Deus que faz novas todas as coisas e, por isso, faz de cada homem e de cada mulher uma nova criatura, reconciliada com o Pai em Cristo Jesus. A alegria inaudita de um pai que não conhece caminhos sem saída e que vive na soleira da porta esperando o filho que partiu para longe, para que no abraço do perdão se faça a festa da alegria reencontrada.
A contemplação do rosto belo, misericordioso e compassivo do Pai que é apresentado por Jesus ensina-nos que no centro da nossa vida não pode estar o pecado, a culpa ou a pesada consciência do mal que cometemos, mas a infinita misericórdia de Deus.
Todos se aproximam de Jesus: publicanos, pecadores, escribas e fariseus. Os publicanos e pecadores encontram em Jesus um rosto de esperança e uma palavra de alento que pode oferecer um novo sentido às suas vidas. Os escribas e fariseus murmuram entre si, pois a atitude de Jesus desconcerta os que vivem numa posição de superioridade moral e religiosa: «Este homem acolhe os pecadores e come com eles».
Diante destes ouvintes, Jesus conta a parábola do Pai Pródigo, pois ao contrário do que tantas vezes dizemos, o único pródigo desta parábola é o pai que distribui com abundância o amor, a misericórdia, o perdão e o acolhimento. Por isso, o grande protagonista desta parábola é o Pai que acolhe o filho que livremente abandonou a casa paterna, mas que regressa ao único lugar onde pode ser verdadeiramente livre.
Na verdade, é este abraço que o faz percorrer a estrada da conversão e da vida nova. Ele regressa para casa, não porque na verdade tenha já percorrido um caminho de conversão e arrependimento. Não se trata de um arrebate de consciência mas de um arrebate de estômago: «quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância, e eu aqui a morrer de fome». Ensaia um discurso e decide voltar a casa como um criado, mas o pai surpreende-o. Ainda vem longe, quando o pai corre ao seu encontro de braços abertos e sem lhe permite terminar o discurso, pede uma túnica, o anel e as sandálias, restituindo-lhe a dignidade de filho.
É verdade que nos revemos facilmente neste filho que abandona a casa paterna. Contudo, a parábola não termina sem referir a dificuldade do filho mais velho em fazer festa pelo regresso do irmão e, por isso, tantas vezes nos podemos também identificar com esta atitude. Porém, como filhos amados e reconciliados pelo amor do Pai, somos chamados a transformar o nosso coração para que se torne um lugar de misericórdia e compaixão, acolhimento e perdão para que nas nossas vidas resplandeça a certeza proclamada por S. Paulo: «se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. As coisas antigas passaram; tudo foi renovado».
Homiliário patrístico
Das Cartas de São Máximo Confessor, abade (Séc. VII)
Os pregadores da verdade e ministros da graça divina, todos os que desde o princípio até aos nossos dias, cada um a seu tempo, nos deram a conhecer a vontade salvífica de Deus, nos ensinam que nada é tão grato a Deus e conforme ao seu amor como a conversão dos homens a Ele com sincero arrependimento.
E para dar a maior prova da bondade divina, o Verbo de Deus Pai, num acto de humilhação que nenhuma palavra pode explicar, num acto de condescendência para com os homens, dignou-Se habitar entre nós por meio da Incarnação; e realizou, padeceu e ensinou tudo o que era necessário para que nós, seus inimigos e adversários, fôssemos reconciliados com Deus Pai e chamados de novo à felicidade eterna que tínhamos perdido.
Por esta razão exclamava: Eu não vim chamar os justos mas os pecadores, para que se convertam. E também: Não são os que têm saúde que precisam do médico, mas os que estão doentes. Disse ainda que viera procurar a ovelha perdida e que fora enviado às ovelhas perdidas da casa de Israel. Deu a entender de um modo mais velado, na parábola da dracma perdida, que tinha vindo restaurar no homem a imagem divina que estava corrompida pelos mais repugnantes vícios. E disse também: Em verdade vos digo: haverá grande alegria no Céu por um só pecador que se arrependa.
Mostrou-nos a condescendência e bondade do pai que recebe afectuosamente o regresso do filho pródigo, o abraça porque vem arrependido, o reveste novamente com as insígnias da sua nobreza familiar e esquece todo o mal cometido.
Indicações litúrgico-pastorais
- O IV Domingo da Quaresma convida-nos a fixar o nosso olhar na infinita misericórdia de Deus que «acolhe os pecadores e come com eles». Percorrendo o nosso itinerário quaresmal, nesta semana somos chamados a ancorar no Cais do encontro. A misericórdia de Deus transforma o nosso coração e a nossa vida e desafia-nos a fazer da nossa fragilidade lugar de encontro com a força que brota do coração de Deus. Por isso, transfigurados pelo amor de Deus, somos chamados a ser portadores da Sua bondade com quantos se cruzam connosco na estrada da vida. Deste modo, nesta semana somos convidados a viver de modo especial as obras de misericórdia, com uma particular atenção junto das pessoas e famílias feridas pela separação, pelo desemprego, pela doença ou pelo luto. Comunitariamente poderão ser propostas e realizadas acções concretas que renovem a nossa consciência de paróquias missionários ao serviço de Deus e do Mundo.
- Para os leitores: a primeira leitura do Livro de Josué narra a primeira Páscoa do Povo de Israel celebrada na terra de Canaã. Por isso, a proclamação desta leitura deve ter presente o tom narrativo que marca todo este texto. Deve haver um especial cuidado na pronunciação das palavras mais difíceis: «opróbrio», «Gálgala» e «ázimos». A segunda leitura abre com uma afirmação central: «Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura». Esta frase deve ser lida com especial entoação pois marca a mensagem principal de todo o texto. O verbo reconciliar é repetido cinco vezes, em diferentes tempos e modos. O cuidado na leitura das diferentes formas verbais contribuirá para uma melhor compreensão da mensagem e uma mais eficaz proclamação do texto.
Sugestões de cânticos
Entrada: Alegra-te, Jerusalém – M. Carneiro (RBP, p. 38-41); Salmo Responsorial: Provai e vede como o Senhor é bom (Sl 33) – F. Santos (BML 50); Aclamação ao Evangelho: Glória a Vós, Cristo, Palavra de Deus. Vou partir, vou ter com meu pai – F. Santos (BML 35); Ofertório: Em Cristo, Deus reconciliou o mundo – F. Santos (LHC II 356); Comunhão: Alegremo-nos porque o nosso irmão – A. Cartageno (CEC I, p. 92-93); Final: Exulta de alegria no Senhor – M. Carneiro (NCT 740).