Mensagem (25): O pêndulo

Foto: Yoan Valat / EPA

Sei bem que este texto não move nem comove: os que já são a favor, continuarão; os que pensam de outra forma, mais se agarrarão às suas ideias. Não obstante… escrevo. Escrevo, ainda que seja na água…

Nos meados do século XIX, Foucault demonstrou o que já se sabia: que a terra não passa a vida a dormir, mas que está em pleno movimento. Movimento de rotação, à volta do seu eixo, que não é um “eterno retorno”, uma repetição indefinida da mesma trajetória, pois sofre oscilações. Mas oscilações «previsíveis».

Movimento é, de facto, a lei da vida. E nem sequer é igual ao trajeto do pêndulo do relógio. Pode ter alguma semelhança, mas as situações são sempre tão distintas que não se resumem a um mero vaivém ritmado. De qualquer maneira, uma ação gera sempre uma reação.

Sabemos bem que o pêndulo não se consegue fixar nos extremos do espaço percorrido: em frações de segundo, troca o movimento ascendente por um outro contrário que o leva aos antípodas do primeiro. A sucessão dos opostos e contraditórios. E isto, indefinidamente….

Mas não é só no relógio que isso se verifica. Na vida e na sociedade, é está uma lei que parece inabalável. De tal forma que, desde sempre, se diz que “os extremos tocam-se”. Quanto mais não fosse, no seu fim. Na ascensão e na queda.

Ora, quando vemos certas áreas políticas tão empenhadas na desestruturação dos valores e no desconstrutivismo mental e cultural, apetece dizer-lhes: “Sois os maiores aliados do extremo que dizeis ser o vosso contrário. Sois vós que gerais os vossos antípodas, os alimentais, os fortaleceis e os engordais. Até que eles vos destruam e vos devorem”.

Não é isto o que está a acontecer um pouco por todo o mundo? Os extremismos políticos, sociais e culturais não estarão a demolir, subversivamente, a cultura ocidental, de base humanista, segundo a qual todos possuem a dignidade responsável de filhos de Deus? Os populismos, os reacionarismos, os muros, as fobias, os anti-isto e anti-aquilo, a extrema direita, não serão os filhos de uma cultura e de uma mente politica que intentam pôr de pernas para o ar o que levou milhares de anos a fixar nos pés?

A esses dirigentes sociopolíticos pede-se-lhes mais lucidez e menos infantilidade. Eles passam, mas as mazelas ficam. Deixem de ser pêndulos. É a única forma de evitar os extremismos.

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