Índia e Paquistão: um conflito velho e perigoso

Nas últimas semanas, a Comunicação Social deu justificado relevo ao reacendimento de um conflito que faz da península indostânica uma das áreas mais perigosas do mundo, pelo menos potencialmente Referimo-nos ao conflito que opõe, há mais de setenta anos, a Índia e o Paquistão.

Por António José da Silva

Em 1947, deu-se a trágica partilha daquele enorme território do império britânico entre estes dois novos estados independentes e, desde então, os seus mais de mil milhões de habitantes vêm sofrendo as consequências de guerras de maior ou menor dimensão, cuja fonte foi sempre o problema do Cachemira.

A chamada partilha da India, solução adoptada pelo Reino Unido enquanto potência colonizadora, provocou o êxodo de milhões de pessoas que se sentiram obrigadas a deixar os territórios onde viviam e a procurar outros espaços, para se abrigarem junto de praticantes da mesma fé. Assim se criaram dois novos estados independentes que se identificaram pela religião professada pela maioria dos seus habitantes: a Índia e o Paquistão. O primeiro, de maioria indú, e o segundo, de maioria muçulmana. Esta solução radical não abrangeu, no entanto, uma região da península que haveria de ser a fonte de um problema que ainda hoje está por resolver: falamos de Cachemira

A quando daquela partilha trágica, o Cachemira tinha uma maioria muçulmana, mas esta foi integrada na Índia, o que provocou o primeiro e significativo movimento de protesto e de revolta por parte da comunidade islâmica da região e, logicamente, do novo estado do Paquistão. Eram os primeiros movimentos de uma guerra que nem sequer a promessa, nunca concretizada, da realização de um referendo foi suficiente para suster. De então para cá, sucederam-se as guerras de maior ou menor intensidade entre os dois países, os ataques terroristas mais ou menos sangrentos por parte de grupos radicais de ambos os lados, e as tentativas quase sempre falhadas de se conseguir uma solução que trouxesse uma paz que fosse estável, entre os dois estados e as duas comunidades.

Enquanto isto, os governos da Índia e do Paquistão foram cuidando das suas sempre perigosas alianças políticas: a Índia, com uma maior aproximação a Moscovo, e o Paquistão, com maior ligação a Washington. Mais grave e ameaçador do que isso foi, no entanto, o enriquecimento do arsenal militar de ambos os países, sobretudo com a conquista do estatuto de potências nucleares. E é por causa desta sua nova dimensão nuclear que se pode dizer que o subcontinente indiano é hoje uma das regiões potencialmente mais perigosas do mundo.